quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hume: padrão do gosto/ Mario Faustino- poesia experiência

As pessoas diferem sobre o mesmo assunto, porque possuem acepções diferentes, tem sentimentos diferentes despertados por um mesmo objeto. E mesmo quando um objeto está estruturado para destinar prazer, não se pode afirmar que o prazer será sentido de forma igual em todas as pessoas. A beleza não existe em coisa alguma, quem as observa é que lhe dá essa propriedade em diferentes níveis. Mas existem situações, em que a opinião é comum a todos, por exemplo: ao comparar o Everest com um montinho de areia, não está mais em questão a opinião particular do indivíduo, se trata de um fato: o Everest é mais alto.
Alguns textos, devido à estruturação, estão destinadas a agradar e outras, não. Quando se verificar uma uniformidade completa nas opiniões dos homens, pode-se ter uma ideia de perfeita beleza. Existem certas qualidades dos objetos que estão destinadas a gerar determinados sentimentos, dependendo do grau em que aparecem não são captadas pelo sentido. Quando existe uma percepção alta para distinguir os ingredientes de composição, diz-se que existe uma delicadeza de gosto. Na expressão poética, a linguagem se clarifica, enriquece, se torna elástica e precisa.
Alguns possuem uma certa reputação, que gera nos outros uma ideia de superioridade, conhecimento, e muitas vezes sua opinião é levada em conta. Mas, quando o mau crítico não quer se submeter à classificação de outra pessoa, ao mostrar-lhe os princípios e recursos usados que não foram percebidos por seu sentido, ele reconhecerá, provavelmente, seu defeito. A composição, os recursos, são importantes para classificar os textos. A prova concreta, muitas vezes é muito mais convincente do que uma opinião, do que a fala, porque aquela apresenta os fatos, não exige compatibilidade dos interlocutores, nem nada emocional, são fatos. E para ter uma percepção melhor desses ingredientes , nada melhor do que a experiência. No começo, pode ser confuso e não legível, mas com o tempo perceberá as belezas e defeitos de cada parte, fará aprovação ou censura. Com a experiência, tem-se a capacidade de fazer comparações, conhecer níveis diversos de técnicas, e melhor avaliar o valor de um objeto.  O fazer poético, não deve ser visto como algo árduo e trabalhoso, tedioso, mas também não deve ser considerado banal. O fazer poético é "doce e útil". O poeta não deve ser colocado num pedestal, mas não deve-se deixar de distingui-lo.
O crítico deve estar acima de qualquer tipo de preconceito porque ele se fecha para sua opinião particular, não se coloca naquele ponto de vista suposto pela obra. Uma obra deve ser classificada como mais ou menos perfeita de acordo com a sua eficiência em atingir seu objetivo.  Só o bom senso ligado à delicadeza do sentimento, aperfeiçoado pela prática e comparação, livre do preconceito dá valiosa personalidade aos críticos. O poeta, ao analisar o social, universal, precisa disciplinar seus mecanismos de raciocínio de forma que se torne objetivo, imparcial, pois existe uma escala de valores e julgamentos que não devem ser realizados sem um preparo especial.  As pessoas preferem aquilo que se assemelhe ao que vivem no momento,o que se assemelhe a inclinações pessoais (um garoto apaixonado estará mais inclinado para textos de romances). Alem disso, agrada mais ler sobre o que  faz parte do nosso tempo, ou que não é muito distante dele, coisas muito distantes não proporcionam uma sensibilidade tao grande (aceitar costumes de épocas muito antigas). Essas particularidades devem ser aceitas, quem ficar chocado dará provas de falta de delicadeza e finura. O poeta melhora o leitor, mas também melhora a si mesmo nesse processo, ele se liberta, se afirma, concentra. É um processo ininterrupto de aperfeiçoamento.
A poesia age sobre o povo, como um comício, um discurso, Os lusíadas contribuíram para o fortalecimento da nacionalidade portuguesa, a Divina Comédia foi importante na luta do papado e as cidades livres da Itália. A poesia testemunha a cidade, registra suas diversas fases de expansão, evolução. A grande poesia contribui para criar um clima político, instigar mudança, formulação de ideias, etc. Assim, para criar uma poesia que corresponde à atualidade, um poeta precisa estar por dentro da sociologia, filosofia, economia, história, etc. É um todo que justifica a parte. Há quem prefira poesia passiva, embaladora, inofensiva. Porém, e poesia deve ser vista como uma forma de explicitar o que ocorre ao nosso redor, e como uma forma alternativa e diferente das pessoas entenderem a atualidade. Porque ao pesquisar sobre cada elemento usado pelo poeta, o motivo daquele uso, a relação com a atualidade e a história, a pessoa adquire conhecimento, e aos poucos forma um senso crítico sobre aquilo que acontece.

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