quinta-feira, 9 de maio de 2013

canto 18 da Ilíada e 8 da Eneida


No canto 18 da Ilíada, há a descrição do escudo de Aquiles. O escudo possui imagens de paz gravadas, como agricultores e casamento. As imagens de paz inseridas num objeto de guerra evidenciam a relação das duas ideias: a guerra é a forma de alcançar a paz e a glória.
O escudo de Eneias conta a história de Roma, desde Rômulo e Remo, até o presente com Augusto, conta a história de Roma, que é a "cabeça do mundo", então, ao contar essa história, também conta a história do mundo: o escudo é o mundo. Além disso, o escudo tem uma forma redonda, que também remete a ideia de circularidade da Terra. No escudo de Aquiles aparecem agricultores, pastores, e guerreiros, que são justamente os temas que Virgílio se apoderou para compor as geórgicas, bucólica e épica.
O curioso é que Virgílio emula Homero não só ao fazer a descrição de um escudo, mas também porque tanto a mãe de Aquiles quanto a de Eneias pedem para Hefesto novas armas para os filhos. A diferença, é que o escudo de Aquiles é descrito durante a fabricação e o de Eneias é descrito por ele mesmo.
Teócrito descreve cenas pastoris baseado no escudo de Aquiles. Ele faz um confronto de objetos. O escudo traz consigo a imagem de guerra, do deus Ares, e a taça, traz a ideia do prazer, do desfrute da natureza (ideia bucólica), onde se bebe vinho (deus Baco). Os dois elementos tem forma circular, eles tem a forma como ponto comum, e ao mesmo tempo se contrapõe, já que um remete à ideia de imagens rupestres, e o outro traz a imagem de violência, agitação. Um, traz a ideia da poesia bucólica, o outro, da épica.
Arquíloco, em um de seus poemas, escreve "estava na guerra e abandonei meu escudo". Olhando primeiramente, a ideia que traz, é a de covardia, e além disso, imprudência, já que alguém que comete uma atitude vergonhosa deve guardar só pra si, e não fazer uma poesia para ter grande visualização (pois um dos valores da população dessa época era de que um homem só deve sair da guerra sob o escudo ou vitorioso). Alceu, e Anacreonte também usam esse verso em seus poemas. Horácio, por sua vez, diz que estava na guerra, e saiu dela através de uma nuvem que o envolveu (essa ideia da nuvem "protetora", que tira da guerra, faz parte da Ilíada, quando Páris é envolvido numa nuvem por Afrodite). Ou seja, há uma citação da Ilíada ligada a essa ideia de abandono da guerra. Pode-se entender então, é que ao dizer "abandonei o escudo", não se trata da matéria da guerra, sua concretização e sim a poesia que a tem como tema. Horácio então, ao dizer que abandonou a guerra, citando a Ilíada, mostra que abandonou esse tipo de poesia, e não que fugiu de um campo de batalha.
Na poética de Aristóteles, tem-se a ideia da ut pictura poiesis ("a pintura é como a poesia"): a pintura serve como base para elaboração de poesias, e as poesias para pintura. Mas Virgílio vai além disso, não relaciona as duas como equivalentes, mas faz com que a poesia pareça superior: na descrição do escudo de Eneias, está escrito que é "algo não narrável", e ele narra. Narra tudo aquilo que as imagens do escudo são incapazes de narrar, com movimentos, ação. 
No canto 8, além de emular o canto 18 da Ilíada, com a inspiração no escudo de Aquiles para descrever o escudo de Eneias, há a complementação do canto 6 da própria Eneida: Rômulo e Remo são citados no canto 6, porém, apenas sua mãe é mencionada. O pai, Marte, é mencionado apenas no canto 8 (isso é adequado, já que Marte é o deus da guerra, e é mencionado justamente na segunda parte da Eneida, destinada para a fundação de Roma, a guerra, e a caracterização de Eneias inspirada em Aquiles).

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