Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento;
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.
Atravesso, no escuro, a névoa fria
Dum mundo estranho, que povoa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.
Que místicos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem
A meus olhos na muda imensidade!
Nesta viagem pelo ermo espaço
Só busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! Irmã do Amor e da Verdade!
O poeta traduziu como se fosse uma experiência captada e vivida no plano dos sentidos. O pensamento se transpôs em experiência, se traduziu em palavras que exprimem uma forte capacidade de visualizar, ouvir, imaginar. Quando
Se interna meu dorido pensamento;
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.
Atravesso, no escuro, a névoa fria
Dum mundo estranho, que povoa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.
Que místicos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem
A meus olhos na muda imensidade!
Nesta viagem pelo ermo espaço
Só busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! Irmã do Amor e da Verdade!
O poeta traduziu como se fosse uma experiência captada e vivida no plano dos sentidos. O pensamento se transpôs em experiência, se traduziu em palavras que exprimem uma forte capacidade de visualizar, ouvir, imaginar. Quando
O comentário
sobre um poema consiste em esclarecer os elementos necessários para o entendimento
do poema, é como uma tradução. Para fazer a interpretação é importante que não
sejam emprestadas à obra ideias pessoais, sentimentos, ou qualquer outra coisa
da sua sugestão. É preciso extrair o que está contido na obra. A análise
consiste em que abranger dados históricos, filológicos, fonéticos, semânticos,
chegando ao pormenor das minúcias.
A sonoridade
do poema pode ser muito perceptível, ou discreta a ponto de nem ser notada. Será
que existem sons que nos remetem determinadas sensações? Vamos supor... se eu
apresentar esses dois versos:
Por que tardas, Jatir, que tanto a
custo
À voz do meu amor moves teus passos?
(Gonçalves Dias)
À voz do meu amor moves teus passos?
(Gonçalves Dias)
Perceba a
aliteração, o uso frequente da consoante T.
Teria o T um valor expressivo de frear, demorar, retardar contribuindo
assim para a composição do poema? Leia os versos em voz alta, e veja como ao
pronunciar essa consoante, a língua encosta nos dentes, e faz um tipo de "pequena
explosão", é como se você segurasse o ar um tempo, e soltasse tudo de uma
vez. O T, por esse motivo, é classificado como oclusivo ou plosivo (por causa
dessa explosão) e dental (porque a língua encosta na parte de trás dos dentes
superiores). Não parece fazer sentido o uso do T nesses versos? Como se o ar
não passasse tão facilmente na pronúncia, como se em cada pequena explosão,
tivesse um retardamento.
Esses recursos
sonoros constituem recursos tradicionais da poesia metrificada. Psicólogos
defendem que a leitura é acompanhada de um esboço de fonação e audição, de tal
forma que nós representamos mentalmente o efeito visado pelo poeta.
No poema Pesadelo, de Eugênio de Castro, apresentado abaixo, há uma quantidade de rimas muito grande, com assonâncias, aliterações, acumuladas quase de forma delirante, para sugerir a atmosfera e as sensações do sonho. Veja:
No poema Pesadelo, de Eugênio de Castro, apresentado abaixo, há uma quantidade de rimas muito grande, com assonâncias, aliterações, acumuladas quase de forma delirante, para sugerir a atmosfera e as sensações do sonho. Veja:
Na messe que enloirece estremece a quermesse,
O sol, o celestial girassol, esmorece
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos.
O sol, o celestial girassol, esmorece
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos.
Bom... mas nem
todos pensam assim. Existe um linguista, chamado Saussure que acredita que não
há nada no som das palavras que o ligue ao objeto. Por exemplo:
Não há nada nas letras m-a-r, juntas, que nos remetam à ideia de uma grande quantidade de água, com ondas, etc. Poderia de chamar de qualquer outra forma...é apenas uma convenção social. Outro exemplo muito bom é das onomatopeias. No Brasil, representamos o latido do cachorro como "au au", mas em outras línguas é representado como "arf arf" ou "woof woof", e o animal emite o mesmo som em todos os países. Para Saussure, o som não corresponde ao conceito. Logo, a expressividade do som se sustenta dificilmente.
Não há nada nas letras m-a-r, juntas, que nos remetam à ideia de uma grande quantidade de água, com ondas, etc. Poderia de chamar de qualquer outra forma...é apenas uma convenção social. Outro exemplo muito bom é das onomatopeias. No Brasil, representamos o latido do cachorro como "au au", mas em outras línguas é representado como "arf arf" ou "woof woof", e o animal emite o mesmo som em todos os países. Para Saussure, o som não corresponde ao conceito. Logo, a expressividade do som se sustenta dificilmente.
É uma boa
teoria. Mas, os poetas usam constantemente esse recurso e possuem resultados
positivos. Dámaso Alonso, poeta, acredita no oposto: que um som mobiliza
inúmeras áreas da rede psíquica do ouvinte.
Os fonemas podem carregar uma expressividade (retardamento do tempo, alegria, obscuridade, etc), mas pra isso acontecer de forma total, é preciso um contexto, cujo acúmulo e combinação definem o rumo geral da expressividade.
Os fonemas podem carregar uma expressividade (retardamento do tempo, alegria, obscuridade, etc), mas pra isso acontecer de forma total, é preciso um contexto, cujo acúmulo e combinação definem o rumo geral da expressividade.
A rima, tem
como principal função criar recorrência do som de modo marcante, estabelecendo
uma sonoridade contínua e perceptível no poema. O ritmo, por sua vez, é uma
forma de combinar sonoridades. É a alternância de sons breves e longos, graves
e agudos, fortes e fracos, som e silêncio.
No ritmo, o importante não é cada fonema, cada som específico, e sim, o
conjunto de todos os sons, os efeitos que provocam, etc.
Aos poucos,
irei postando mais coisas sobre o verso poético, figuras de linguagem, etc.
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