Canto 4 da Eneida: pág 71
"Quanto à rainha, ferida de cega paixão desde muito, nutre nas veias a chaga e no oculto braseiro se fina, a revolver de contínuo na mente o valor do guerreiro, a alta linhagem do herói; no imo peito gravadas conserva suas palavras, o gesto. De tantos cuidados não dorme".
Essas passagens relembrar o poema de Camões: "Amor é ferida que dói e não se sente" e "É fogo que arde sem se ver". Retomamos aquela ideia de que os poetas se copiam, realizam a mimesis, para tentar superar s grandes autores.
Cuidados remete à deia da poesia lírica, já falada anteriormente. Os cuidados são relacionados à poesia erótica. Aqui, dá pra perceber que a lírica ganha espaço no helenismo.
Na pág 79, verso 305: Dido chama Eneias de Pérfido. Pérfido significa "aquele que rompe a fides (confiança)". Ela rompe a característica dele de ser aquele que cumpre o dever. Aqui, Virgílio imita outro poeta: Catulo. Ele conta o abandono de Ariadne por Teseu, ela também o chama de Pérfido.
Às vezes, a imitação se dá numa palavrinha, ou na posição de uma palavra. Por exemplo: tanto Dido quanto Ariadne dizem pérfido como a primeira palavra de sua frase. Então, são coisas muito sutis, que exigem, portanto, a leitura dos livros com atenção.
Pág 85: versos 582 e 583:
Aqui, é quando Dido vê que Eneias escapa do leito. E esses versos dizem assim "Já a nova Aurora saltara do leito do cróceo Titono para a luz bela espargir pelo mundo e de cores orná-lo". Aurora é casada com Titono. Virgílio faz um jogo de imagens: assim como a aurora se levanta do leito, deixa o companheiro para iluminar o mundo, Eneias parte para fundar Roma e deixa Dido.
pág 86, verso 622: "jamais aproxime os povos imigos".
Os povos inimigos são de Cartago e Roma. Aqui, tem uma etiologia: explica algo histórico a partir de um mito. Roma e Cartago lutaram num período que se arrastou de 264 a 241 aC. Estamos muito depois dessa guerra. Lembro que Virgílio é do séc VIII aC.
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