terça-feira, 28 de maio de 2013
iâmbica e mais detalhes
Bom, vamos retomar ideias dos poetas iâmbicos, acrescentar mais coisas e fazer algumas relações. Como vimos, Arquíloco foi o inventor do gênero iâmbico, quando tomado pela raiva faz uma poesia agressiva contra Licambes, que rompeu o pacto em que daria a mão de sua filha Neobula em casamento. Hipônax se assemelha a ele, já que faz uma invectiva contra Búpalo, um escultor que o retrata mesmo contra sua vontade. Os dois se assemelham no propósito da poesia, que é a morte e difamação do adversário, porém, Arquíloco faz a poesia contra um homem comum, um pai de família, e Hipoônax fala contra um artista: aqui, tem-se uma ideia de metapoética, porque é a arte falando da arte. Hipônax, por falar de arte, e também por ser o inventor da paródia (que rebaixa um gênero, matéria, pessoa, etc) é caro aos helenísticos, que passam a tomá-lo como um modelo. Os helenísticos se enxergam em Hipônax, como se ele fosse um deles, só que num tempo anterior. Tanto que o caracterizam caracterizam como "poeta bebedor de água", porque domina a técnica, não é inspirado pela Musa, não "sai de si" como poetas igual Homero, que é "bebedor de vinho". No helenismo, o "rebaixamento" também é forte característica, já que na própria Eneida, canto IV, há uma mistura grande de poetas e gêneros como o epigrama, trágico, mélico. Apolônio de Rodes, nas Argonáuticas (epopeia de quatro cantos) dedicou um canto para cantar o amor de Jasão e Media. É o intuito de fazer uma poesia menor, mais leve, breve. Calímaco, que é um poeta helenístico escreveu que "um grande livro é um grande mal" que traz duas ideias importantes: a composição, a ideia de escrever em livros presente no helenismo, e a ideia de não escrever um livro grande, extenso. Ele próprio escreveu um livro de iambos. Diferente de Arquíloco e Hipônax, seus poemas foram organizados por ele próprio em forma de livro: o poeta tem controle editorial (assim como na Eneida, em que o fim do canto III coincide com a noite, e o início do canto IV com o dia. O fim do dia coincide com o fim do canto). Calímaco, por ser helenístico, tem como modelo maior Hipônax. Porém, no 2º iambo de seu livro, ele usa a ideia de fábula presente nos iambos de Arquíloco, a ideia de comparar os animais às pessoas por causa de determinadas características. Calímaco, ainda usa em seu livro epinícios, poemas etiológicos, trazendo uma ideia de mistura de gêneros, típica do helenismo. E apesar de ter Hipônax como modelo maior, ao fazer invectivas, ele não é tão duro. Tanto que em seu primeiro iambo, em que há a "ressuscitação de Hipônax", diz que "não canta a luta contra Búpalo", ou seja: não levará seu inimigo à morte, é mais doce (assim como no helenismo há um espaço maior pro amor na épica, tentando assim deixar a poesia mais leve). Logo no primeiro iambo ele anuncia sua intenção, que é evidenciada ao longo do livro: começa com invectiva, passa para conselho, depois passa para um louvor oblíquo, e depois para um louvor propriamente dito. No fim de seu livro, ele prevê futuras críticas em relação à mistura de gêneros que faz, e se defende no iambo 13, dizendo que apenas emula, que sua composição é uma imitação da de Íon (que compôs tragédia, comédia, elegia, mélica), mostrando assim que é um poeta versátil, que transforma qualquer matéria em poesia. Assim como os helenísticos faziam poesia sobre astros, agricultura, para mostrar que poeta de verdade não é aquele que escreve sobre temas poéticos, mas que transforma os não poéticos em poesia.
terça-feira, 21 de maio de 2013
iâmbica, Arquíloco, Hipônax e Calímaco
Hoje vamos retomar algumas características da poesia helenística e fazer mais algumas análises em relação a ela. Bom, o inventor desse gênero, foi Arquíloco, tomado pela raiva quando Licambes rompeu o trato em que daria a mão de sua filha em casamento. Hipônax se assemelha a Arquíloco uma vez que também faz uma poesia tomado pela raiva, quando Búpalo vai contra sua vontade, e o retrata em uma escultura, apesar de ser muito feio. Bom, então, os dois se assemelham por fazer poesia agressiva, com intuito da morte do adversário. Arquíloco, porém, faz a poesia contra um homem comum, um pai de família; e Hipônax faz uma poesia contra um escultor, um fazedor de arte...ele critica a arte. Vemos então uma ideia metapoética, já que a arte fala da arte.
Por esse motivo, Hipônax é caro aos helenísticos: eles se enxergam em hipônax, o vêem como um helenístico antes do tempo deles. Ele, portanto, é o modelo iâmbico no helenismo. Tanto que Hipônax é classificado como um poeta "bebedor de água", um poeta que não precisa da inspiração das Musas, que está são enquanto compõe e é hábil, tem a técnica; diferente de Arquíloco, Homero, que são vistos como "poetas bebedores de vinho", trazendo a ideia de que estão fora de si, que a Musa é a inspiradora. Além disso, Hipônax é o inventor da paródia, que também é cara para essa época. A paródia traz uma ideia de rebaixamento, e que exatamente o que os helenisticos fizeram com a poesia épica: acrescentaram temas como o amor, para fazer a poesia se tornar mais leve. Calímaco era um poeta helenístico, e uma de suas frases foi "um grande livro é um grande mal", que traz não só uma forte característica dessa época que é a composição, a organização do poema em livro (em vez da recitação), mas também traz a ideia de que algo muito extenso, muito longo, que leva tempo demais para ler, não é bom, é exagerado; tanto que é conhecido por seus epigramas, por xemplo o tumular, que se caracteriza pela brevidade. Calímaco, por fazer parte do helenismo, toma Hipônax como modelo principal. Porém, é possível perceber que, em seus iâmbos ele faz uma mistura de diversos poetas, usa fábulas, que são característica marcante de Arquíloco. Isso porque, isso faz parte da poesia de seu período, essa mistura de gêneros, de poetas, evidenciando o conhecimento. Na própria Eneida, canto IV, há uma mistura muito forte de gêneros: lírico, épico, trágico, epigramático. No primeiro canto de Calímaco, é contada a estória dos sete sábios, já apresentada por Hipônax. Porém, ele não usa os mesmos sábios que Hipônax. Ele usa outra versão, mais desconhecida, para mostrar sua erudição, que também é muito forte no helenismo (poetas doutos).
Portanto, Calímaco é um poeta helenístico que possui características bem marcantes de sua época, com apresentação de erudição, mistura de gêneros (polyeideia) e brevidade. E Hipônax, mesmo não fazendo parte do período helenístico, era muito caro por eles, já que foi tido como um "helenístico adiantado" porque também fazia uso de paródia, ou seja, rebaixava gêneros mais elevados, ou até mesmo pessoas, não invocava a Musa...era hábil, tinha técnica. E Arquíloco, apesar de ter sido o inventor do gênero iâmbico, não apresentava tantas características em comum com o helenismo.
Por esse motivo, Hipônax é caro aos helenísticos: eles se enxergam em hipônax, o vêem como um helenístico antes do tempo deles. Ele, portanto, é o modelo iâmbico no helenismo. Tanto que Hipônax é classificado como um poeta "bebedor de água", um poeta que não precisa da inspiração das Musas, que está são enquanto compõe e é hábil, tem a técnica; diferente de Arquíloco, Homero, que são vistos como "poetas bebedores de vinho", trazendo a ideia de que estão fora de si, que a Musa é a inspiradora. Além disso, Hipônax é o inventor da paródia, que também é cara para essa época. A paródia traz uma ideia de rebaixamento, e que exatamente o que os helenisticos fizeram com a poesia épica: acrescentaram temas como o amor, para fazer a poesia se tornar mais leve. Calímaco era um poeta helenístico, e uma de suas frases foi "um grande livro é um grande mal", que traz não só uma forte característica dessa época que é a composição, a organização do poema em livro (em vez da recitação), mas também traz a ideia de que algo muito extenso, muito longo, que leva tempo demais para ler, não é bom, é exagerado; tanto que é conhecido por seus epigramas, por xemplo o tumular, que se caracteriza pela brevidade. Calímaco, por fazer parte do helenismo, toma Hipônax como modelo principal. Porém, é possível perceber que, em seus iâmbos ele faz uma mistura de diversos poetas, usa fábulas, que são característica marcante de Arquíloco. Isso porque, isso faz parte da poesia de seu período, essa mistura de gêneros, de poetas, evidenciando o conhecimento. Na própria Eneida, canto IV, há uma mistura muito forte de gêneros: lírico, épico, trágico, epigramático. No primeiro canto de Calímaco, é contada a estória dos sete sábios, já apresentada por Hipônax. Porém, ele não usa os mesmos sábios que Hipônax. Ele usa outra versão, mais desconhecida, para mostrar sua erudição, que também é muito forte no helenismo (poetas doutos).
Portanto, Calímaco é um poeta helenístico que possui características bem marcantes de sua época, com apresentação de erudição, mistura de gêneros (polyeideia) e brevidade. E Hipônax, mesmo não fazendo parte do período helenístico, era muito caro por eles, já que foi tido como um "helenístico adiantado" porque também fazia uso de paródia, ou seja, rebaixava gêneros mais elevados, ou até mesmo pessoas, não invocava a Musa...era hábil, tinha técnica. E Arquíloco, apesar de ter sido o inventor do gênero iâmbico, não apresentava tantas características em comum com o helenismo.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Iâmbica
T1) "Segurai meu manto, vou socar o olho de Búpalo,
pois sou ambidestro, e ao socar, não erro."
comentário: de novo, Búpalo aparece. Aqui é mais um trechinho mesmo... Hipônax quer dizer que não adianta Búpalo fugir, que se ele fugir da mão direita/esquerda, ele bate com a outra, não tem problema.
T2) "Por Zeus, se um de nós tivesse acertado suas mandíbulas duas ou
três vezes, elas teriam perdido a voz, como Búpalo."
comentário: Esse trechinho faz parte da Lisístrata, em que está acontecendo uma guerra, e as mulheres já estão fartas, então resolvem fazer greve de sexo. E assim fica. Quando os homens voltam pra casa, em determinado período de tempo, elas dizem que não farão nada enquanto a guerra não cessar. E aí tem a citação de Hipônax com o soco em Búpalo, dizendo que se um deles tivesse atacado uma das mulheres como Hipônax fez com o escultor, as mulheres logo desistiram dessa ideia.
T3) "Narra-me, Musa, o mar-Caribde, a faca no estômago
de Eurimedontíades, que come sem ordem,
para que sofra funesto infortúnio por funesto voto,
por vontade popular, ao longo do litoral do mar estéril"
comentário: Esses versos foram escritos em hexâmetro datílico, que é o verso usado pra cantar os heróis, os grandes feitos. É o verso típico da epopeia (gênero elevado). Hipônax, é considerado o inventor da paródia, porque aqui, ele faz uma alusão à Odisseia quando diz "Narra-me Musa..." já que é assim que a epopeia começa. Só que ele não usa essas palavras para cantar um feito heroico, e sim pra cantar um comilão. É como se ele rebaixasse o metro, e o gênero épico nesses versos, fazendo essa paródia. Ele diz que o homem é tão voraz ao comer, que parece que possui facas no estômago, porque destroi a comida, da mesma forma que o mar Caribde destroi os barcos.
T4) "Aqui jaz o feitor-de-poema Hipônax.
Se és maligno, não venhas à tumba dele;
se contudo, és correto e de honesta origem,
com coragem te senta, querendo, dorme."
comentário: esse é um epigrama tumular, feito por Teócrito. Sabe aquelas palavras que se escreve no túmulo, do tipo "Aqui jaz (alguém), pai amoroso e marido dedicado"? É isso. O epigrama é um poema feito geralmente em dístico elegíaco. Porém, Hipônax inventou um metro próprio, o coliambo. Então, esse epigrama foi feito nesse tipo de metro, como uma homenagem. Acho muito interessante, porque traz a ideia de que no túmulo de Hipônax havia muitas vespas (lembra que o poeta iâmbico era relacionado com o cachorro, mas com a vespa também, porque ela machuca, etc?) e que se alguém vicioso se aproximasse, seria ferido por elas. É como se o poeta continuasse julgando e castigando aqueles que são viciosos, mesmo depois de morto.
pois sou ambidestro, e ao socar, não erro."
comentário: de novo, Búpalo aparece. Aqui é mais um trechinho mesmo... Hipônax quer dizer que não adianta Búpalo fugir, que se ele fugir da mão direita/esquerda, ele bate com a outra, não tem problema.
T2) "Por Zeus, se um de nós tivesse acertado suas mandíbulas duas ou
três vezes, elas teriam perdido a voz, como Búpalo."
comentário: Esse trechinho faz parte da Lisístrata, em que está acontecendo uma guerra, e as mulheres já estão fartas, então resolvem fazer greve de sexo. E assim fica. Quando os homens voltam pra casa, em determinado período de tempo, elas dizem que não farão nada enquanto a guerra não cessar. E aí tem a citação de Hipônax com o soco em Búpalo, dizendo que se um deles tivesse atacado uma das mulheres como Hipônax fez com o escultor, as mulheres logo desistiram dessa ideia.
T3) "Narra-me, Musa, o mar-Caribde, a faca no estômago
de Eurimedontíades, que come sem ordem,
para que sofra funesto infortúnio por funesto voto,
por vontade popular, ao longo do litoral do mar estéril"
comentário: Esses versos foram escritos em hexâmetro datílico, que é o verso usado pra cantar os heróis, os grandes feitos. É o verso típico da epopeia (gênero elevado). Hipônax, é considerado o inventor da paródia, porque aqui, ele faz uma alusão à Odisseia quando diz "Narra-me Musa..." já que é assim que a epopeia começa. Só que ele não usa essas palavras para cantar um feito heroico, e sim pra cantar um comilão. É como se ele rebaixasse o metro, e o gênero épico nesses versos, fazendo essa paródia. Ele diz que o homem é tão voraz ao comer, que parece que possui facas no estômago, porque destroi a comida, da mesma forma que o mar Caribde destroi os barcos.
T4) "Aqui jaz o feitor-de-poema Hipônax.
Se és maligno, não venhas à tumba dele;
se contudo, és correto e de honesta origem,
com coragem te senta, querendo, dorme."
comentário: esse é um epigrama tumular, feito por Teócrito. Sabe aquelas palavras que se escreve no túmulo, do tipo "Aqui jaz (alguém), pai amoroso e marido dedicado"? É isso. O epigrama é um poema feito geralmente em dístico elegíaco. Porém, Hipônax inventou um metro próprio, o coliambo. Então, esse epigrama foi feito nesse tipo de metro, como uma homenagem. Acho muito interessante, porque traz a ideia de que no túmulo de Hipônax havia muitas vespas (lembra que o poeta iâmbico era relacionado com o cachorro, mas com a vespa também, porque ela machuca, etc?) e que se alguém vicioso se aproximasse, seria ferido por elas. É como se o poeta continuasse julgando e castigando aqueles que são viciosos, mesmo depois de morto.
Iâmbica
Agora sim vamos entrar mais fundo na poesia iâmbica.
T1) "E falava cem lídio: 'venha até aqui
E como convém a um pederasta na bunda um ferrolho enfia'
e o meu saco
com um ramo de figueira golpeou, como a um pharmakós
em dois bastões
em sofrimentos redobrados
o ramo de figueira que do outro lado me raspava"
comentário: Bom, aqui, temos um ritual feito a um pharmakós. O que é isso? O pharmakós é como se fosse "a pessoa mais viciosa da comunidade", a pessoa mais indesejada e tudo mais. Então, ele teve um ferrolho enfiado no ânus, teve o pênis golpeado por ramo de figueira, depois mais um ferrolho foi introduzido no ânus. Porque para eles, o pharmakós deveria sofrer por cometer tantos vícios.
T2) "Erótia trouxe um pênis ereto de couro, que ela, logo que lambuzou com azeite, um pouco de pimenta e semente triturada de urtiga, lentamente introduziu em meu ânus.
Depois, a crudelíssima velha cobriu minhas coxas com esse líquido [...]
Ela misturou suco de mastruz com absinto e, depois de verter essa mistura sobre meus órgãos genitais, apanhou um feixe de urtiga verde e castigou vagarosamente todas as partes do umbigo para baixo"
comentário: não sei se é necessário falar sobre o tema sexual, já que está explícito, nem sei se é necessário falar algo, mas tudo bem. Esse ritual (acredite se quiser), é para recuperar a virilidade. Acho que só isso era necessário comentar...dá pra perceber a violência desse ritual, ele mesmo diz que ela "castigou as partes do umbigo pra baixo". É isso então.
T3) "Pela onda extravidado
e em Salmidesso, nu,
na mais negra noite os trácios tufocomados
o peguem e aí se farte de muitos males
o pão escravo comendo
hirto e frio e do fluxo marinho
muitas algas lhe escorram
lhe batam os dentes como um cão sobre a boca
caído e extenuado
à beira d'agua vomitando a onda.
Isso eu queria ver,
que ele me ofendeu, aos pés calcou as juras,
ele que antes era amigo"
comentário: Aqui, vemos aquela raiva feroz que já vimos antes, lembra? Aquela mesma raiva de Dido por Enéias, que faz a pessoa fazer uma imprecação (jogar uma praga). Esse poema é feito pra um amigo que rompeu um juramento. A pessoa está desejando que não só ele naufrague...mas que naufrague numa noite escura, para não ver nada, sentir medo, e quer que esteja nu. Quer se seja feito de escravo, e que engula muita água, e quando chegar à praia, vomite toda água que engoliu.
T1) "E falava cem lídio: 'venha até aqui
E como convém a um pederasta na bunda um ferrolho enfia'
e o meu saco
com um ramo de figueira golpeou, como a um pharmakós
em dois bastões
em sofrimentos redobrados
o ramo de figueira que do outro lado me raspava"
comentário: Bom, aqui, temos um ritual feito a um pharmakós. O que é isso? O pharmakós é como se fosse "a pessoa mais viciosa da comunidade", a pessoa mais indesejada e tudo mais. Então, ele teve um ferrolho enfiado no ânus, teve o pênis golpeado por ramo de figueira, depois mais um ferrolho foi introduzido no ânus. Porque para eles, o pharmakós deveria sofrer por cometer tantos vícios.
T2) "Erótia trouxe um pênis ereto de couro, que ela, logo que lambuzou com azeite, um pouco de pimenta e semente triturada de urtiga, lentamente introduziu em meu ânus.
Depois, a crudelíssima velha cobriu minhas coxas com esse líquido [...]
Ela misturou suco de mastruz com absinto e, depois de verter essa mistura sobre meus órgãos genitais, apanhou um feixe de urtiga verde e castigou vagarosamente todas as partes do umbigo para baixo"
comentário: não sei se é necessário falar sobre o tema sexual, já que está explícito, nem sei se é necessário falar algo, mas tudo bem. Esse ritual (acredite se quiser), é para recuperar a virilidade. Acho que só isso era necessário comentar...dá pra perceber a violência desse ritual, ele mesmo diz que ela "castigou as partes do umbigo pra baixo". É isso então.
T3) "Pela onda extravidado
e em Salmidesso, nu,
na mais negra noite os trácios tufocomados
o peguem e aí se farte de muitos males
o pão escravo comendo
hirto e frio e do fluxo marinho
muitas algas lhe escorram
lhe batam os dentes como um cão sobre a boca
caído e extenuado
à beira d'agua vomitando a onda.
Isso eu queria ver,
que ele me ofendeu, aos pés calcou as juras,
ele que antes era amigo"
comentário: Aqui, vemos aquela raiva feroz que já vimos antes, lembra? Aquela mesma raiva de Dido por Enéias, que faz a pessoa fazer uma imprecação (jogar uma praga). Esse poema é feito pra um amigo que rompeu um juramento. A pessoa está desejando que não só ele naufrague...mas que naufrague numa noite escura, para não ver nada, sentir medo, e quer que esteja nu. Quer se seja feito de escravo, e que engula muita água, e quando chegar à praia, vomite toda água que engoliu.
Algumas abordagens do Estudo Analítico do poema, de Antonio Candido
a poesia não
necessariamente precisa ser feita em versos metrificados. Pode haver poesia em
verso livre, poesia em prosa. A eficácia poética é devida à sua tradução em um sistema adequado de palavras que dêem a impressão de experiência, de algo vivido, sentido, e não de um raciocínio. Olhe esse soneto de Antero de Quental:
Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento;
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.
Atravesso, no escuro, a névoa fria
Dum mundo estranho, que povoa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.
Que místicos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem
A meus olhos na muda imensidade!
Nesta viagem pelo ermo espaço
Só busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! Irmã do Amor e da Verdade!
O poeta traduziu como se fosse uma experiência captada e vivida no plano dos sentidos. O pensamento se transpôs em experiência, se traduziu em palavras que exprimem uma forte capacidade de visualizar, ouvir, imaginar. Quando
Se interna meu dorido pensamento;
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.
Atravesso, no escuro, a névoa fria
Dum mundo estranho, que povoa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.
Que místicos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem
A meus olhos na muda imensidade!
Nesta viagem pelo ermo espaço
Só busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! Irmã do Amor e da Verdade!
O poeta traduziu como se fosse uma experiência captada e vivida no plano dos sentidos. O pensamento se transpôs em experiência, se traduziu em palavras que exprimem uma forte capacidade de visualizar, ouvir, imaginar. Quando
O comentário
sobre um poema consiste em esclarecer os elementos necessários para o entendimento
do poema, é como uma tradução. Para fazer a interpretação é importante que não
sejam emprestadas à obra ideias pessoais, sentimentos, ou qualquer outra coisa
da sua sugestão. É preciso extrair o que está contido na obra. A análise
consiste em que abranger dados históricos, filológicos, fonéticos, semânticos,
chegando ao pormenor das minúcias.
A sonoridade
do poema pode ser muito perceptível, ou discreta a ponto de nem ser notada. Será
que existem sons que nos remetem determinadas sensações? Vamos supor... se eu
apresentar esses dois versos:
Por que tardas, Jatir, que tanto a
custo
À voz do meu amor moves teus passos?
(Gonçalves Dias)
À voz do meu amor moves teus passos?
(Gonçalves Dias)
Perceba a
aliteração, o uso frequente da consoante T.
Teria o T um valor expressivo de frear, demorar, retardar contribuindo
assim para a composição do poema? Leia os versos em voz alta, e veja como ao
pronunciar essa consoante, a língua encosta nos dentes, e faz um tipo de "pequena
explosão", é como se você segurasse o ar um tempo, e soltasse tudo de uma
vez. O T, por esse motivo, é classificado como oclusivo ou plosivo (por causa
dessa explosão) e dental (porque a língua encosta na parte de trás dos dentes
superiores). Não parece fazer sentido o uso do T nesses versos? Como se o ar
não passasse tão facilmente na pronúncia, como se em cada pequena explosão,
tivesse um retardamento.
Esses recursos
sonoros constituem recursos tradicionais da poesia metrificada. Psicólogos
defendem que a leitura é acompanhada de um esboço de fonação e audição, de tal
forma que nós representamos mentalmente o efeito visado pelo poeta.
No poema Pesadelo, de Eugênio de Castro, apresentado abaixo, há uma quantidade de rimas muito grande, com assonâncias, aliterações, acumuladas quase de forma delirante, para sugerir a atmosfera e as sensações do sonho. Veja:
No poema Pesadelo, de Eugênio de Castro, apresentado abaixo, há uma quantidade de rimas muito grande, com assonâncias, aliterações, acumuladas quase de forma delirante, para sugerir a atmosfera e as sensações do sonho. Veja:
Na messe que enloirece estremece a quermesse,
O sol, o celestial girassol, esmorece
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos.
O sol, o celestial girassol, esmorece
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos.
Bom... mas nem
todos pensam assim. Existe um linguista, chamado Saussure que acredita que não
há nada no som das palavras que o ligue ao objeto. Por exemplo:
Não há nada nas letras m-a-r, juntas, que nos remetam à ideia de uma grande quantidade de água, com ondas, etc. Poderia de chamar de qualquer outra forma...é apenas uma convenção social. Outro exemplo muito bom é das onomatopeias. No Brasil, representamos o latido do cachorro como "au au", mas em outras línguas é representado como "arf arf" ou "woof woof", e o animal emite o mesmo som em todos os países. Para Saussure, o som não corresponde ao conceito. Logo, a expressividade do som se sustenta dificilmente.
Não há nada nas letras m-a-r, juntas, que nos remetam à ideia de uma grande quantidade de água, com ondas, etc. Poderia de chamar de qualquer outra forma...é apenas uma convenção social. Outro exemplo muito bom é das onomatopeias. No Brasil, representamos o latido do cachorro como "au au", mas em outras línguas é representado como "arf arf" ou "woof woof", e o animal emite o mesmo som em todos os países. Para Saussure, o som não corresponde ao conceito. Logo, a expressividade do som se sustenta dificilmente.
É uma boa
teoria. Mas, os poetas usam constantemente esse recurso e possuem resultados
positivos. Dámaso Alonso, poeta, acredita no oposto: que um som mobiliza
inúmeras áreas da rede psíquica do ouvinte.
Os fonemas podem carregar uma expressividade (retardamento do tempo, alegria, obscuridade, etc), mas pra isso acontecer de forma total, é preciso um contexto, cujo acúmulo e combinação definem o rumo geral da expressividade.
Os fonemas podem carregar uma expressividade (retardamento do tempo, alegria, obscuridade, etc), mas pra isso acontecer de forma total, é preciso um contexto, cujo acúmulo e combinação definem o rumo geral da expressividade.
A rima, tem
como principal função criar recorrência do som de modo marcante, estabelecendo
uma sonoridade contínua e perceptível no poema. O ritmo, por sua vez, é uma
forma de combinar sonoridades. É a alternância de sons breves e longos, graves
e agudos, fortes e fracos, som e silêncio.
No ritmo, o importante não é cada fonema, cada som específico, e sim, o
conjunto de todos os sons, os efeitos que provocam, etc.
Aos poucos,
irei postando mais coisas sobre o verso poético, figuras de linguagem, etc.
Iâmbica
T1) "Ó clazomênios, Búpalo matou [...]"
comentário: Lembram da estorinha sobre o Arquíloco e o Licambes? Pois é...aqui é a mesma coisa. Hipônax era um homem muito feio, e não queria ser retratado por ninguém, de forma alguma. Daí, Búpalo era um escultor...fez uma escultura dele, provocou raiva, etc.
Hipônax então diz que ele matou (não se sabe o que, ou quem...), mostrando que é vicioso.
T2) "Búpalo, o fode-mãe, com Arete,
enganando com tais palavras os filhos dos Eritreus,
[...] e pronto para fazer sair seu odioso prepúcio [...]"
comentário: Búpalo aqui é retratado como incestuoso. Arete significa "virtude", é como uma contradição, porque "aquela que é a virtude", passa a ser o vício de Búpalo e aquela que comete uma ação viciosa. De novo temos o tema sexual.
T3) "Do balde,
bebiam. Ora ele, ora Arete
brindava."
comentário: outro vício relacionado ao Búpalo, ele bebe demais. O balde traz a ideia de uma quantidade exagerada de bebida.
T4) "Com a garça favorável, eu, ao ir
Para Arete no escuro, acampei"
comentário: Aqui, temos uma paródia de Homero. Na Ilíada, quando os guerreiros vão investigar o campo adversário, no escuro, diz-se que "vão com a garça favorável". É uma paródia do "caminhar noturno", dando um contexto sexual. E o "acampar", traz a ideia de sexo mesmo.
T5) "Hermes, caro Hermes, filhore de Maia, Cilênio,
suplico-te, pois estou terrivelmente com muito frio
e meus dentes estão batendo [...]
Dá um manto a Hipônax, e uma tunicazinha,
e sandaliazinhas, pantufinhas, e sessenta estáteres
de ouro do outro lado"
comentário: O poeta, de novo é retratado como pobre. E percebam que o poema é feito em forma de prece, como um hino; tem a invocação do deus e um pedido. Mas, ele não está louvando o Deus, é como se ele estivesse fazendo uma paródia de um gênero elevado (o hino), porque ele chama o deus de "filhote" e fala várias palavras com diminutivo (pantufazinha, tunicazinha).
comentário: Lembram da estorinha sobre o Arquíloco e o Licambes? Pois é...aqui é a mesma coisa. Hipônax era um homem muito feio, e não queria ser retratado por ninguém, de forma alguma. Daí, Búpalo era um escultor...fez uma escultura dele, provocou raiva, etc.
Hipônax então diz que ele matou (não se sabe o que, ou quem...), mostrando que é vicioso.
T2) "Búpalo, o fode-mãe, com Arete,
enganando com tais palavras os filhos dos Eritreus,
[...] e pronto para fazer sair seu odioso prepúcio [...]"
comentário: Búpalo aqui é retratado como incestuoso. Arete significa "virtude", é como uma contradição, porque "aquela que é a virtude", passa a ser o vício de Búpalo e aquela que comete uma ação viciosa. De novo temos o tema sexual.
T3) "Do balde,
bebiam. Ora ele, ora Arete
brindava."
comentário: outro vício relacionado ao Búpalo, ele bebe demais. O balde traz a ideia de uma quantidade exagerada de bebida.
T4) "Com a garça favorável, eu, ao ir
Para Arete no escuro, acampei"
comentário: Aqui, temos uma paródia de Homero. Na Ilíada, quando os guerreiros vão investigar o campo adversário, no escuro, diz-se que "vão com a garça favorável". É uma paródia do "caminhar noturno", dando um contexto sexual. E o "acampar", traz a ideia de sexo mesmo.
T5) "Hermes, caro Hermes, filhore de Maia, Cilênio,
suplico-te, pois estou terrivelmente com muito frio
e meus dentes estão batendo [...]
Dá um manto a Hipônax, e uma tunicazinha,
e sandaliazinhas, pantufinhas, e sessenta estáteres
de ouro do outro lado"
comentário: O poeta, de novo é retratado como pobre. E percebam que o poema é feito em forma de prece, como um hino; tem a invocação do deus e um pedido. Mas, ele não está louvando o Deus, é como se ele estivesse fazendo uma paródia de um gênero elevado (o hino), porque ele chama o deus de "filhote" e fala várias palavras com diminutivo (pantufazinha, tunicazinha).
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Trechos da iâmbica
Ok... então hoje vamos voltar ao assunto da poesia iâmbica, com mais trechos, sexo, violência e tudo aquilo típico desse gênero.
T1) "ai ai, ela está passada, tem o dobro da tua idade,
a flor virginal murchou,
e a graça que antes tinha;
Pois a insaciabilidade não
[...] revelou, a enfurecida mulher"
comentário : 1º - esse colchete que coloquei, não é censura não. É porque, como eu já disse, faz parte de uma parte não legível do poema.
Esse trecho mostra pra gente um lugar comum entre os poetas, que é o "retratar da velha", retratar a velha como viciosa, etc. Vemos uma mulher, que não se sacia sexualmente. Mas ao mesmo tempo, ela não desperta desejo, por ser flácida, enrugada, e tudo mais. E por não despertar desejo, e assim, não ter seu apetite sexual saciado, ela fica enfurecida.
T2) Agora, vamos ver como Arquíloco era visto por outros poetas, em três trechos:
"É preciso que eu
evite a maledicência da mordida profunda.
Pois vi, estando bem longe, o vituperador
Arquíloco, na penúria, alegrando-se com ódios
de palavras pesadas"
(Píndaro)
comentário: Píndaro ficou conhecido por seus epinícios. Era um poeta mélico, portanto. Faz um poesia de louvor. A "mordida" citada no segundo verso, é comum para se referir aos poetas iâmbicos, porque traz a ideia da mordida do cachorro. Esse "estando bem longe", não quer dizer que ele está observando Arquíloco de longe. Está se referindo ao tempo mesmo, eles são de épocas diferentes, Píndaro é posterior. Ao dizer "na penúria", retoma-se aquela ideia da caracterização do poeta iâmbico como pobre, marginal.
"Tinha do cão a amarga bile, o agudo aguilhão
da vespa e, na boca, o veneno de ambos"
(Calímaco)
comentário: de novo, o poeta iâmbico é comparado ao cão. E também à vespa, que machuca, fere.
"Assim, segundo a opinião de Aristarco, dos três escritores de iambos em voga, só Arquíloco será de fato pertinente para a formação do orador. Nele há a maior força de elocução, não só as máximas são robustas mas também breves e vibrantes, dotadas de sangue e nervos, e o fato de parecer a alguns menor do que alguém é um vício da matéria e não do engenho"
(Quintiliano)
comentário: Então... aqui, Arquíloco é tomado como um exemplo para o orador. Um exemplo para o orador que tem como objetivo atacar o adversário, falar com força, etc. Arquíloco é o exemplo para esse tipo de discurso, dotado de violência e raiva (sangue e nervos). É interessante o final dessa trecho, quando ele diz que é um vício da matéria e não do engenho...ou seja, Arquíloco não é menor por falar sobre matérias baixas como sexo, fezes, palavras baixas, etc. Ele é modelar falando sobre o que fala. A matéria que sobre a qual ele fala é baixa, mas ele é o melhor fazendo isso, ele é engenhoso.
T1) "ai ai, ela está passada, tem o dobro da tua idade,
a flor virginal murchou,
e a graça que antes tinha;
Pois a insaciabilidade não
[...] revelou, a enfurecida mulher"
comentário : 1º - esse colchete que coloquei, não é censura não. É porque, como eu já disse, faz parte de uma parte não legível do poema.
Esse trecho mostra pra gente um lugar comum entre os poetas, que é o "retratar da velha", retratar a velha como viciosa, etc. Vemos uma mulher, que não se sacia sexualmente. Mas ao mesmo tempo, ela não desperta desejo, por ser flácida, enrugada, e tudo mais. E por não despertar desejo, e assim, não ter seu apetite sexual saciado, ela fica enfurecida.
T2) Agora, vamos ver como Arquíloco era visto por outros poetas, em três trechos:
"É preciso que eu
evite a maledicência da mordida profunda.
Pois vi, estando bem longe, o vituperador
Arquíloco, na penúria, alegrando-se com ódios
de palavras pesadas"
(Píndaro)
comentário: Píndaro ficou conhecido por seus epinícios. Era um poeta mélico, portanto. Faz um poesia de louvor. A "mordida" citada no segundo verso, é comum para se referir aos poetas iâmbicos, porque traz a ideia da mordida do cachorro. Esse "estando bem longe", não quer dizer que ele está observando Arquíloco de longe. Está se referindo ao tempo mesmo, eles são de épocas diferentes, Píndaro é posterior. Ao dizer "na penúria", retoma-se aquela ideia da caracterização do poeta iâmbico como pobre, marginal.
"Tinha do cão a amarga bile, o agudo aguilhão
da vespa e, na boca, o veneno de ambos"
(Calímaco)
comentário: de novo, o poeta iâmbico é comparado ao cão. E também à vespa, que machuca, fere.
"Assim, segundo a opinião de Aristarco, dos três escritores de iambos em voga, só Arquíloco será de fato pertinente para a formação do orador. Nele há a maior força de elocução, não só as máximas são robustas mas também breves e vibrantes, dotadas de sangue e nervos, e o fato de parecer a alguns menor do que alguém é um vício da matéria e não do engenho"
(Quintiliano)
comentário: Então... aqui, Arquíloco é tomado como um exemplo para o orador. Um exemplo para o orador que tem como objetivo atacar o adversário, falar com força, etc. Arquíloco é o exemplo para esse tipo de discurso, dotado de violência e raiva (sangue e nervos). É interessante o final dessa trecho, quando ele diz que é um vício da matéria e não do engenho...ou seja, Arquíloco não é menor por falar sobre matérias baixas como sexo, fezes, palavras baixas, etc. Ele é modelar falando sobre o que fala. A matéria que sobre a qual ele fala é baixa, mas ele é o melhor fazendo isso, ele é engenhoso.
terça-feira, 14 de maio de 2013
A elegíaca, lírica e o foco na iâmbica
Vou começar esse post citando algumas diferenças de três gêneros não abordados na Poética de Aristóteles com profundidade, para então iniciar uma análise da poesia iâmbica.
poesia elegíaca : escrita em dístico elegíaco, que é um hexâmetro seguido por pentâmetro. A épica é escrita em hexâmetro datílico, então, a poesia elegíaca deriva da épica. A única diferença do dístico para o hexâmetro, é que existe um pé a menos (o pé é aquilo que marca o ritmo), até Ovídio mostra a relação dos dois gêneros ao dizer: "Me preparei pra cantar as armas, veio o cupido e roubou um pé".
Novamente, cantar as armas tem relação com a poesia épica. A elegia é a poesia do lamento, sobretudo, do amor. A elegia é narrativa, usa a palavra como modo. É, na maior parte das vezes, um narrativo simples (não tem alternância da fala do narrador com a dos personagens. Só o narrador fala.). E o gênero de elocução é médio.
poesia lírica: canta os deuses, os filhos dos deuses, o vinho, pugilato e os cuidados. A lírica não tem um metro específico como a épica, que é característica pelo hexâmetro datílico. Ela é muito complexa, por exemplo: existem subdivisões dentro de cada uma dessas subdivisões de hino, epinício, etc. Então, existe o hino a Apolo, que tem um metro próprio, com ritmo próprio, dança própria. É narrativa simples. Para os românticos, é conhecida como a poesia do "eu". O termo "lírico" surge no helenismo, a partir do séc III aC, porque antes disso, eram chamada poesia mélica. Exemplos de grandes poetas líricos são Safo e Anacreonte.
Agora vou falar com um pouco mais de detalhes da poesia Iâmbica. Esse tipo de poesia tem como característica marcante, o iambo (que é um pé, ou seja, marca o ritmo). Essa poesia se associa à fala do dia a dia, cotidiana, então, é uma poesia baixa (na épica por exemplo, havia aquela valorização da escolha das palavras, o ornato, o corte de palavras, abreviações, para distanciar, justamente, da fala vulgar e cotidiana). As próprias palavras usadas são baixas, como veremos daqui a pouco. Essa poesia, como eu já disse na outra postagem, é motivada pela raiva. O meio é o simples verbo (não há ritmo, harmonia). O narrador, na maioria das vezes, não dá a palavra para o personagem como acontece na Odisseia, Ilíada, Eneida... nas quais a narrativa é mista, ou seja, há alternância. E o objeto são homens inferiores a nós. Bom, nem sempre há a possibilidade de estudar poemas inteiros, já que há a degradação pelo tempo, o desaparecimento de determinadas partes, etc. Então, nem tudo que postarei estará completo, porém, é possível fazer análises e entender do que se trata esse tipo de poesia e algumas características marcantes:
T1) "Não me importam de Giges seus tesouros,
nem me tomou inveja nem admiro
divas obras e o grande tirano não amo;
pois muito longe estão dos meus olhos."
comentário: o poeta se caracteriza como pobre. Isso tem relação com o tipo da poesia (fala cotidiana, a falta de uso de recursos para elevar a poesia, etc). Podemos perceber também uma crítica moral e política: o rei tem poder demais, ele faz um confronto dele com o tirano: um, é poderoso, rico, o outro é humilde, pobre.
T2) "e o caralho dele,
como o de um asno prieneu,
reprodutor, comedor de milho, encheu-se,"
comentário: Esse trecho é excelente pra evidenciar a baixeza de vocabulário. Tomado pela raiva, o eu lírico não diz "o membro sexual masculino", e sim, "caralho". A comparação com animais é frequente: você rebaixa a pessoa comparando-a com o caráter dos animais. Então, ao falar de mau cheiro há animais específicos, assim como para astúcia, etc. O asno por exemplo, é tomado como um animal de membro sexual imenso, ou seja, a crítica está em dizer que o homem criticado é luxurioso, vicioso, ele é o próprio membro, nada além disso. Esses temas sexuais são muito frequentes na poesia iâmbica. E dá pra supor o motivo disso pela própria história de sua origem:
Iambe era um escrava (já podemos ver aqui a origem humilde), que ajudou a divertir uma deusa que estava aos prantos porque não encontrava a filha. Iambe então, começa a fazer gracejos, mostra as partes íntimas, se toca, tentando fazer a deusa se divertir e rir. Então, as palavras de baixo calão, são usadas para proporcionar o riso, diversão.
T3) "havia muita espuma ao redor da boca"
comentário: aqui, existe um exemplo de felação (que segundo o dicionário é: s.f. Gozo sexual provocado pela sucção; coito bucal). E existiam práticas sexuais, principalmente, que eram praticadas só por escravos, mulheres, então, retratar isso sendo feito por um homem não escravo era um forma de rebaixá-lo. Novamente insisto que muitos poemas e partes de poemas foram perdidos ou degradados. Esse verso por exemplo não está composto em um contexto, não há evidências que mostrem que era um homem. Porém pelo tipo de poesia e seu objetivo, pode-se entender que não estava retratando o ato feito por uma mulher e um escravo. Provavelmente realmente está dizendo que o ato foi feito por um homem, com a intenção de manchar sua imagem.
T4) "Pai Licambes, que é isto que pensaste?
Quem perturbou teus pensamentos,
em que outrora te apoiavas? E agora pareces
ser motivo de muito riso aos cidadãos.
violaste grande juramento,
o sal e a mesa.
Esta é uma fábula dos homens:
como uma raposa e uma águia em comunidade
se uniram."
comentário: eu já contei antes a estória de Licambes, sua filha Neobula, o pacto que Licambes fez com Arquíloco para dar-lhe a mão de sua filha, o rompimento do pacto, a ira de Arquíloco refletida em seu poema e a morte do esperado sogro e suas filhas. Nesse trecho, vemos o uso de ironia em "Pai Licambes". É como se Arquíloco estivesse dizendo "era pra você ser meu sogro, meu pai também... mas você rompeu o pacto, lembra?". Ele diz que Licambes agora é motivo de riso entre os cidadãos, isso porque faltou com sua palavra, faltou com um pacto feito durante a mesa, enquanto comiam. Aqui, também são citados animais, e até uma fábula. A raposa representa o animal traiçoeiro, e a águia, um animal elevado. Agora, eu retomo algo que já disse no post anterior, mas que considero relevante também citar agora:
Aristóteles disse na Poética que a poesia iâmbica não era universal e fictícia como a comédia. Porém ao analisar o significado dos nomes vemos que, talvez, não seja tão particular, e pode sim se referir a uma ideia, a algo universal: Licambes significa "passo do lobo" (relaciona-se com a raposa da fábula, astuta). E Neobula significa "novo desejo".
Para os antigos, o instabilidade como característica da mulher é um ponto comum entre os autores. Isso é bem exemplificado no nascimento de Vênus, que ocorre onde? No mar, que é instável, muda o tempo todo de acordo com os ventos.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Soneto 18 de Shakespeare
Deverei comparar-te a um dia de verão?
Tu és a mais serena e a mais amável
Os fortes ventos de maio movimentam os brotos,
e o prazo do verão é sempre inconsolável
em um momento muito intenso, brilha o olho estelar,
e freqüentemente se ofusca a luz do seu semblante,
nefasto, o encanto da beleza irá renunciar, porventura ou pelo destino inconstante;
Mas teu verão é eterno e jamais morrerá, não há de perder o encanto que possui;
E pela sombra da morte não vagarás, pois em versos eternos tu e o tempo sois iguais.
Enquanto o homem possa respirar ou os olhos possam ver, viva este canto dar-te a vida é o seu dever.
Análise:
Primeiro, deve ser considerado que Shakespeare é inglês, ou seja, o que ele considera um dia de verão, não é o mesmo que os brasileiros consideram. Para eles, o verão é aguardado, é como se fosse o ponto alto do ano. E ele diz que a amada dele é melhor do que isso. Diz que o verão pode ser muito intenso, mas que ela, sempre tem a intensidade perfeita, é suave, e nunca perderá seu encanto. O verão, pode até acabar, e com ele ir embora e época de temperatura agradável e a beleza, mas a beleza da amada nunca deixará de existir, pois foi imortalizada em seus versos.
Igreja, de Drummond
Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando trabalhando
mais perto do céu
cada vez mais perto
mais
- a torre.
E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando os geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu,
no alto fica Deus.
Domingo...
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.
Análise:
- "Tijolo
areia
andaime
água
tijolo."
- "pernas de seda ajoelham mostrando geolhos" (joelhos): aqui, tem-se a ideia de meninos jovens olhando as pernas das mulheres que se ajoelham. É uma sensualidade inocente. Como se eles ficassem atentos para esse momento.
- "um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida": aqui, pode-se ter uma ideia de cidade pequena...um sino batendo, e tudo mais.
- "a manhã pintou-se de azul" : o verbo pintar é usado, trazendo a ideia de construção de novo.
- "No adro ficou o ateu
no alto fica Deus"
note que aqui há um espelhamento das palavras. O espelhamento de Deus e o ateu. Aqui também tem-se a ideia de um cidadezinha pura, pequena, porque até quem não acredita em Deus, vai até a igreja esperar o pessoal sair, dando uma ideia de que todos vão à igreja, ou pelo menos a maioria das pessoas. - "bem bão! bem bão!" : sonoridade semelhante ao som produzido pelo sino.
À fragilidade da vida humana, de Francisco de Vasconcelos
Baixel de confusão em mares de ânsia,
Edifício caduco em vil terreno,
Rosa murchada já no campo ameno,
Berço trocado em tumba desd’a infância,
Fraqueza sustentada em arrogância,
Néctar suave em campos de veneno,
Escura noite em lúcido sereno,
Sereia alegre em triste consonância,
Viração lisonjeira em vento forte,
Riqueza falsa em venturosa mina,
Estrela errante em fermentido norte,
Verdade, que o engano contamina,
Triunfo do temor, troféu da morte,
É nossa vida vã, nossa ruína.
Análise:
- baixel é um barco
- edifício caduco é um edifício que está quase caindo
- "edifício caduco em vil terreno/ rosa murchada já no campo ameno" : trazem ideia de tempo
- berço trocado por tumba desd'a infância: também traz ideia de tempo: depois que a criança nasce, é como se ela já estivesse à serviço da morte. Como se a vida a vida fosse um acúmulo de mortes, ilusões, desde que somos pequenos.
- fraqueza sustentada em arrogância : os dois elementos trazem ideia negativa. E um se sustenta no outro, enfatizando a pobreza da vida, a tristeza, um certo desespero e melancolia.
- viração lisonjeira (brisa) em vento forte
- ele traz vários elementos negativos que são reforçados duas vezes. É como dizer "não basta a vida ser ruim uma vez, ela é ruim duas vezes...é preciso enfatizar".
transportes, de Rubens Rodrigues Torres Filho
De frescão até o Leblon –
Metáfora! metáfora! –
Vamos todos viajar
– Metáfora! metáfora!
De ácido ou de condução
sempre é mão ou contramão.
Metáfora é que é bom.
Metáfora! metáfora! –
Vamos todos viajar
– Metáfora! metáfora!
De ácido ou de condução
sempre é mão ou contramão.
Metáfora é que é bom.
Análise:
- frescão: ônibus do RJ com ar condicionado
- metáfora: "transportar" em grego = transporte
- "de frescão até o leblon" - metáfora: ideia de ir de ônibus, passear
- "vamos todos viajar- metáfora- de ácido ou de condução": a viagem aqui, é exposta tanto no sentido de pegar o ônibus, e passear, quanto no sentido de entrar em êxtase por ácido (drogas).
- "sempre é mão ou contramão": tanto o ônibus que você pegar pode ser ruim (é bom pra passear, mas pode ser ruim caso você se perca, ou coisa do tipo), quanto o uso das drogas (que é bom durante o êxtase, mas causa dependência). Tudo tem um lado bom e ruim.
- "metáfora é que é bom": metáfora nesse verso é usado como recurso do poeta (figura de linguagem). Quando ele diz que metáfora é que é bom, quer dizer que com essa figura de linguagem, é possível ser transportado (aqui se encaixa o sentido grego de novo) pelo poeta. É como se o eu lírico preferisse ser transportado pela figura de linguagem, e não pelas drogas, por frescão, nem nada do tipo.
outra análise de a uma passante
Baudelaire viveu numa época de grande agitação política, depois da revolução francesa, tentava-se instaurar a república.
Então:
- "a rua" : pode se tratar da agitação, das pessoas revoltadas, gritando
- "moça de luto" : representa o ideal da república, que durou três semanas; É o olhar que o eu lírico troca com a tão sonhada república, e a indagação que faz "será que te verei de novo? será que essa revolta, essa luta toda terá efeito? Nunca talvez!"
- a moça balançando a saia : traz uma ideia de simplicidade. E uma ideia de "vamos, podemos conseguir"
- dizer que a moça é fidalga, é como dizer que a república é que é boa. Que as outras formas de governo não são nobres.
Então:
- "a rua" : pode se tratar da agitação, das pessoas revoltadas, gritando
- "moça de luto" : representa o ideal da república, que durou três semanas; É o olhar que o eu lírico troca com a tão sonhada república, e a indagação que faz "será que te verei de novo? será que essa revolta, essa luta toda terá efeito? Nunca talvez!"
- a moça balançando a saia : traz uma ideia de simplicidade. E uma ideia de "vamos, podemos conseguir"
- dizer que a moça é fidalga, é como dizer que a república é que é boa. Que as outras formas de governo não são nobres.
Virgílio como modelo para Pessoa
Eneida, verso 727: "a mente agita a matéria": em tudo há uma porção da alma do mundo, isso vivifica tudo.
Aqui, veremos como a tradição clássica influencia não só poetas mais antigos, mas poetas não tão distantes de nós. Anquises fala para Eneias que Roma vai surgir, e Fernando pessoa faz o livro Mensagem, que é como uma mensagem para Portugal de que a terra irá reerguer. O povo precisa acordar para o retorno de D. Sebastião para reerguer a pátria (o poeta é profeta).
A mente agita a matéria, em latim: mens agitat molem ~> Virgílio como modelo para Pessoa.
mensagem
Aqui, veremos como a tradição clássica influencia não só poetas mais antigos, mas poetas não tão distantes de nós. Anquises fala para Eneias que Roma vai surgir, e Fernando pessoa faz o livro Mensagem, que é como uma mensagem para Portugal de que a terra irá reerguer. O povo precisa acordar para o retorno de D. Sebastião para reerguer a pátria (o poeta é profeta).
A mente agita a matéria, em latim: mens agitat molem ~> Virgílio como modelo para Pessoa.
mensagem
canto 18 da Ilíada e 8 da Eneida
No canto
18 da Ilíada, há a descrição do escudo de Aquiles. O escudo possui imagens de paz gravadas, como agricultores e casamento. As imagens de paz inseridas num objeto de guerra evidenciam a relação das duas ideias: a guerra é a forma de alcançar a paz e a glória.
O escudo de Eneias conta a história de Roma, desde Rômulo e Remo, até o presente com Augusto, conta a história de Roma, que é a "cabeça do mundo", então, ao contar essa história, também conta a história do mundo: o escudo é o mundo. Além disso, o escudo tem uma forma redonda, que também remete a ideia de circularidade da Terra. No escudo de Aquiles aparecem agricultores, pastores, e guerreiros, que são justamente os temas que Virgílio se apoderou para compor as geórgicas, bucólica e épica.
O curioso é que Virgílio emula Homero não só ao fazer a descrição de um escudo, mas também porque tanto a mãe de Aquiles quanto a de Eneias pedem para Hefesto novas armas para os filhos. A diferença, é que o escudo de Aquiles é descrito durante a fabricação e o de Eneias é descrito por ele mesmo.
O escudo de Eneias conta a história de Roma, desde Rômulo e Remo, até o presente com Augusto, conta a história de Roma, que é a "cabeça do mundo", então, ao contar essa história, também conta a história do mundo: o escudo é o mundo. Além disso, o escudo tem uma forma redonda, que também remete a ideia de circularidade da Terra. No escudo de Aquiles aparecem agricultores, pastores, e guerreiros, que são justamente os temas que Virgílio se apoderou para compor as geórgicas, bucólica e épica.
O curioso é que Virgílio emula Homero não só ao fazer a descrição de um escudo, mas também porque tanto a mãe de Aquiles quanto a de Eneias pedem para Hefesto novas armas para os filhos. A diferença, é que o escudo de Aquiles é descrito durante a fabricação e o de Eneias é descrito por ele mesmo.
Teócrito descreve cenas pastoris
baseado no escudo de Aquiles. Ele faz um confronto de objetos. O escudo traz
consigo a imagem de guerra, do deus Ares, e a taça, traz a ideia do prazer, do
desfrute da natureza (ideia bucólica), onde se bebe vinho (deus Baco). Os dois
elementos tem forma circular, eles tem a forma como ponto comum, e ao mesmo
tempo se contrapõe, já que um remete à ideia de imagens rupestres, e o outro
traz a imagem de violência, agitação. Um, traz a ideia da poesia bucólica, o
outro, da épica.
Arquíloco, em um de seus poemas,
escreve "estava na guerra e abandonei meu escudo". Olhando
primeiramente, a ideia que traz, é a de covardia, e além disso, imprudência, já
que alguém que comete uma atitude vergonhosa deve guardar só pra si, e não
fazer uma poesia para ter grande visualização (pois um dos valores da população
dessa época era de que um homem só deve sair da guerra sob o escudo ou
vitorioso). Alceu, e Anacreonte também usam esse verso em seus poemas. Horácio,
por sua vez, diz que estava na guerra, e saiu dela através de uma nuvem que o
envolveu (essa ideia da nuvem "protetora", que tira da guerra, faz
parte da Ilíada, quando Páris é envolvido numa nuvem por Afrodite). Ou seja, há
uma citação da Ilíada ligada a essa ideia de abandono da guerra. Pode-se
entender então, é que ao dizer "abandonei o escudo", não se trata da
matéria da guerra, sua concretização e sim a poesia que a tem como tema.
Horácio então, ao dizer que abandonou a guerra, citando a Ilíada, mostra que
abandonou esse tipo de poesia, e não que fugiu de um campo de batalha.
Na poética de Aristóteles, tem-se a ideia da ut pictura poiesis ("a pintura é como a poesia"): a pintura serve como base para elaboração de poesias, e as poesias para pintura. Mas Virgílio vai além disso, não relaciona as duas como equivalentes, mas faz com que a poesia pareça superior: na descrição do escudo de Eneias, está escrito que é "algo não narrável", e ele narra. Narra tudo aquilo que as imagens do escudo são incapazes de narrar, com movimentos, ação.
No canto 8, além de emular o canto
18 da Ilíada, com a inspiração no escudo de Aquiles para descrever o escudo de
Eneias, há a complementação do canto 6 da própria Eneida: Rômulo e Remo são
citados no canto 6, porém, apenas sua mãe é mencionada. O pai, Marte, é
mencionado apenas no canto 8 (isso é adequado, já que Marte é o deus da guerra,
e é mencionado justamente na segunda parte da Eneida, destinada para a fundação
de Roma, a guerra, e a caracterização de Eneias inspirada em Aquiles).
quarta-feira, 8 de maio de 2013
semelhança de Odisseu e Eneias
Odisseu e Eneias possuem características em comum:
Os dois cumprem seu dever com os deuses e a família, são piedosos. Os dois precisam conversar com os mortos para purgar a culpa que sentem. Um, pelo abandono de Dido e sua conseqüente morte; o outro, pela morte de Ajaz devido a injusta disputa pelas armas de Aquiles. Além da semelhança, os dois tem o mesmo desfecho: são ignorados. No Hades, os dois encontram parentes, e recebem revelação: Eneias descobre sua missão de fundar Roma, Odisseu descobre que perderá a nave, os companheiros, que morrerá de velhice e que deverá seguir com as viagens. Os dois personagens, além disso, fundam cidades: Eneias funda Roma, e Odisseu Ulissipona (Lisboa).
Odisseu é citado n'Os Lusíadas, porque além de ser um navegador, ele fundou a cidade mais importante.
Odisseu e Eneias, no mar, durante a tempestade, dizem que bem aventurados são os que morreram no campo da batalha, e que eles são desafortunados por morrerem em um lugar tão distante, onde ninguém saiba o que aconteceu e que fim tiveram. Morrer na batalha é símbolo de glória, porque aí, você será cantado pelo aedo enquanto ele cantar a guerra. Mas se você morrer longe de todo mundo, não tem a mesma importância. Essa passagem em que eles fazem um discurso antes da suposta morte, em que louvam a morte durante a luta, é chamada discurso da bela morte.
Relação de Aquiles com Roma, ou pq ele é importante pra Eneias: No canto XX da Ilíada, tem a disputa de Eneias com Aquiles, que resultaria na morte do primeiro, já que o Pelida era guerreiro estimável e incomparável. Eneias foi induzido por Apolo, que o convenceu citando sua origem divina, superior a de Aquiles. Eneias, cita sua linhagem, assim como Aquiles, e mostra que tem linhagem troiana: Eneias participa da historia de Troia. Mas Eneias é quase morto, e Posido o salva.
Os dois cumprem seu dever com os deuses e a família, são piedosos. Os dois precisam conversar com os mortos para purgar a culpa que sentem. Um, pelo abandono de Dido e sua conseqüente morte; o outro, pela morte de Ajaz devido a injusta disputa pelas armas de Aquiles. Além da semelhança, os dois tem o mesmo desfecho: são ignorados. No Hades, os dois encontram parentes, e recebem revelação: Eneias descobre sua missão de fundar Roma, Odisseu descobre que perderá a nave, os companheiros, que morrerá de velhice e que deverá seguir com as viagens. Os dois personagens, além disso, fundam cidades: Eneias funda Roma, e Odisseu Ulissipona (Lisboa).
Odisseu é citado n'Os Lusíadas, porque além de ser um navegador, ele fundou a cidade mais importante.
Odisseu e Eneias, no mar, durante a tempestade, dizem que bem aventurados são os que morreram no campo da batalha, e que eles são desafortunados por morrerem em um lugar tão distante, onde ninguém saiba o que aconteceu e que fim tiveram. Morrer na batalha é símbolo de glória, porque aí, você será cantado pelo aedo enquanto ele cantar a guerra. Mas se você morrer longe de todo mundo, não tem a mesma importância. Essa passagem em que eles fazem um discurso antes da suposta morte, em que louvam a morte durante a luta, é chamada discurso da bela morte.
Relação de Aquiles com Roma, ou pq ele é importante pra Eneias: No canto XX da Ilíada, tem a disputa de Eneias com Aquiles, que resultaria na morte do primeiro, já que o Pelida era guerreiro estimável e incomparável. Eneias foi induzido por Apolo, que o convenceu citando sua origem divina, superior a de Aquiles. Eneias, cita sua linhagem, assim como Aquiles, e mostra que tem linhagem troiana: Eneias participa da historia de Troia. Mas Eneias é quase morto, e Posido o salva.
canto 6 da Eneida e a Divina Comédia
Canto 6 da Eneida:
Esse canto é essencial. Ele está posicionado num lugar estratégico: é nesse canto que Eneias desce ao centro da Terra, para falar com os mortos. Ele está no centro da Terra, e o canto está no centro do livro, no meio (é o canto 6, a Eneida tem 12 cantos). Além disso, A eneida é dividida em duas partes:
1º parte: é o retrato de Eneias como navegador (similar a Odisseu)
2º parte: retrato de Eneias como guerreiro (similar a Aquiles)
*Virgílio procura imitar não só um livro, mas os dois, para mostrar o quanto ele consegue ser versátil. Além disso, ele mostra que consegue retratar em seis cantos o que Homero levou 24 pra fazer em Odisseu, e mais 24 pra Aquiles. Ele mostra que além de versátil, ele consegue ser objetivo, breve...e não ficar enrolando.
É nesse canto, no canto do meio, que há a transformação do Eneias troiano em Eneias Romano. E é na segunda parte que ele vai propriamente fundar Roma. Então, esse canto central, é não só uma similaridade do centro do livro como o centro do mundo, mas é também o ponto em que Eneias deixa de ser troiano para ser romano, ilustrando assim o que virá pela frente: a fundação de Roma, as batalhas.
Na Odisseia e na Eneida tem inversão: Odisseu fala primeiramente com Tirésias (que era seu objetivo). Eneias fala primeiro com o pai, e por último com quem devia. Depois que ele conversa com todo mundo que devia, ele vai conversar com Anquises.
Apolo tem grande importância na Eneida:
- fundador (ele contribui na morte de Aquiles. Se Aquiles não tivesse morrido, Eneias seria morto, e não poderia fundar Roma. Então, indiretamente ele contribui pra fundação da cidade).
-poesia (ele é responsável também pela fundação dessa cidade. Se ela não fosse fundada, não haveria poesia sobre ela. Então, ele é indiretamente um poeta também).
-profeta (a vidente é possuída pelo Deus Apolo).
Depois, tem a descrição do mundo dos mortos. Ele vê Dido na selva sombria (essa expressão vai ser retomada na Divina Comédia).
Eneias diz uma hora, que não é capaz de descrever em detalhes todos que estão do lado dos maus no mundo dos mortos, e pelo que estão sendo punidos. Essa parte parece ter sido a inspiração de Dante para o desenrolar de seu inferno na Divina Comédia, porque ele descreve em detalhes todos que estão lá e seus pecados. Ele aqui, está emulando Virgílio, mostrando que é capaz de fazer o que ele não consegue. Mais especificamente:
Dante é um autor. (autor, que vem de auctor = pessoa que acrescenta algo). Uma coisa muito interessante também, é que Eneias fala que não conseguiria descrever isso, nem se tivesse 100 bocas, línguas. 100 línguas, e a D. Comédia possui 100 cantos.
Esse canto é essencial. Ele está posicionado num lugar estratégico: é nesse canto que Eneias desce ao centro da Terra, para falar com os mortos. Ele está no centro da Terra, e o canto está no centro do livro, no meio (é o canto 6, a Eneida tem 12 cantos). Além disso, A eneida é dividida em duas partes:
1º parte: é o retrato de Eneias como navegador (similar a Odisseu)
2º parte: retrato de Eneias como guerreiro (similar a Aquiles)
*Virgílio procura imitar não só um livro, mas os dois, para mostrar o quanto ele consegue ser versátil. Além disso, ele mostra que consegue retratar em seis cantos o que Homero levou 24 pra fazer em Odisseu, e mais 24 pra Aquiles. Ele mostra que além de versátil, ele consegue ser objetivo, breve...e não ficar enrolando.
É nesse canto, no canto do meio, que há a transformação do Eneias troiano em Eneias Romano. E é na segunda parte que ele vai propriamente fundar Roma. Então, esse canto central, é não só uma similaridade do centro do livro como o centro do mundo, mas é também o ponto em que Eneias deixa de ser troiano para ser romano, ilustrando assim o que virá pela frente: a fundação de Roma, as batalhas.
Na Odisseia e na Eneida tem inversão: Odisseu fala primeiramente com Tirésias (que era seu objetivo). Eneias fala primeiro com o pai, e por último com quem devia. Depois que ele conversa com todo mundo que devia, ele vai conversar com Anquises.
Apolo tem grande importância na Eneida:
- fundador (ele contribui na morte de Aquiles. Se Aquiles não tivesse morrido, Eneias seria morto, e não poderia fundar Roma. Então, indiretamente ele contribui pra fundação da cidade).
-poesia (ele é responsável também pela fundação dessa cidade. Se ela não fosse fundada, não haveria poesia sobre ela. Então, ele é indiretamente um poeta também).
-profeta (a vidente é possuída pelo Deus Apolo).
Depois, tem a descrição do mundo dos mortos. Ele vê Dido na selva sombria (essa expressão vai ser retomada na Divina Comédia).
Eneias diz uma hora, que não é capaz de descrever em detalhes todos que estão do lado dos maus no mundo dos mortos, e pelo que estão sendo punidos. Essa parte parece ter sido a inspiração de Dante para o desenrolar de seu inferno na Divina Comédia, porque ele descreve em detalhes todos que estão lá e seus pecados. Ele aqui, está emulando Virgílio, mostrando que é capaz de fazer o que ele não consegue. Mais especificamente:
Dante é um autor. (autor, que vem de auctor = pessoa que acrescenta algo). Uma coisa muito interessante também, é que Eneias fala que não conseguiria descrever isso, nem se tivesse 100 bocas, línguas. 100 línguas, e a D. Comédia possui 100 cantos.
Canto 4 da Eneida, Camões e relação com helenismo
Canto 4 da Eneida: pág 71
"Quanto à rainha, ferida de cega paixão desde muito, nutre nas veias a chaga e no oculto braseiro se fina, a revolver de contínuo na mente o valor do guerreiro, a alta linhagem do herói; no imo peito gravadas conserva suas palavras, o gesto. De tantos cuidados não dorme".
Essas passagens relembrar o poema de Camões: "Amor é ferida que dói e não se sente" e "É fogo que arde sem se ver". Retomamos aquela ideia de que os poetas se copiam, realizam a mimesis, para tentar superar s grandes autores.
Cuidados remete à deia da poesia lírica, já falada anteriormente. Os cuidados são relacionados à poesia erótica. Aqui, dá pra perceber que a lírica ganha espaço no helenismo.
Na pág 79, verso 305: Dido chama Eneias de Pérfido. Pérfido significa "aquele que rompe a fides (confiança)". Ela rompe a característica dele de ser aquele que cumpre o dever. Aqui, Virgílio imita outro poeta: Catulo. Ele conta o abandono de Ariadne por Teseu, ela também o chama de Pérfido.
Às vezes, a imitação se dá numa palavrinha, ou na posição de uma palavra. Por exemplo: tanto Dido quanto Ariadne dizem pérfido como a primeira palavra de sua frase. Então, são coisas muito sutis, que exigem, portanto, a leitura dos livros com atenção.
Pág 85: versos 582 e 583:
Aqui, é quando Dido vê que Eneias escapa do leito. E esses versos dizem assim "Já a nova Aurora saltara do leito do cróceo Titono para a luz bela espargir pelo mundo e de cores orná-lo". Aurora é casada com Titono. Virgílio faz um jogo de imagens: assim como a aurora se levanta do leito, deixa o companheiro para iluminar o mundo, Eneias parte para fundar Roma e deixa Dido.
pág 86, verso 622: "jamais aproxime os povos imigos".
Os povos inimigos são de Cartago e Roma. Aqui, tem uma etiologia: explica algo histórico a partir de um mito. Roma e Cartago lutaram num período que se arrastou de 264 a 241 aC. Estamos muito depois dessa guerra. Lembro que Virgílio é do séc VIII aC.
"Quanto à rainha, ferida de cega paixão desde muito, nutre nas veias a chaga e no oculto braseiro se fina, a revolver de contínuo na mente o valor do guerreiro, a alta linhagem do herói; no imo peito gravadas conserva suas palavras, o gesto. De tantos cuidados não dorme".
Essas passagens relembrar o poema de Camões: "Amor é ferida que dói e não se sente" e "É fogo que arde sem se ver". Retomamos aquela ideia de que os poetas se copiam, realizam a mimesis, para tentar superar s grandes autores.
Cuidados remete à deia da poesia lírica, já falada anteriormente. Os cuidados são relacionados à poesia erótica. Aqui, dá pra perceber que a lírica ganha espaço no helenismo.
Na pág 79, verso 305: Dido chama Eneias de Pérfido. Pérfido significa "aquele que rompe a fides (confiança)". Ela rompe a característica dele de ser aquele que cumpre o dever. Aqui, Virgílio imita outro poeta: Catulo. Ele conta o abandono de Ariadne por Teseu, ela também o chama de Pérfido.
Às vezes, a imitação se dá numa palavrinha, ou na posição de uma palavra. Por exemplo: tanto Dido quanto Ariadne dizem pérfido como a primeira palavra de sua frase. Então, são coisas muito sutis, que exigem, portanto, a leitura dos livros com atenção.
Pág 85: versos 582 e 583:
Aqui, é quando Dido vê que Eneias escapa do leito. E esses versos dizem assim "Já a nova Aurora saltara do leito do cróceo Titono para a luz bela espargir pelo mundo e de cores orná-lo". Aurora é casada com Titono. Virgílio faz um jogo de imagens: assim como a aurora se levanta do leito, deixa o companheiro para iluminar o mundo, Eneias parte para fundar Roma e deixa Dido.
pág 86, verso 622: "jamais aproxime os povos imigos".
Os povos inimigos são de Cartago e Roma. Aqui, tem uma etiologia: explica algo histórico a partir de um mito. Roma e Cartago lutaram num período que se arrastou de 264 a 241 aC. Estamos muito depois dessa guerra. Lembro que Virgílio é do séc VIII aC.
As muralha e as cidades e a edição no helenismo
Eneida do Carlos Alberto Nunes:
pág20, versos 12-15: ele fala do trabalho das abelhas. Isso aqui é uma símile: ele compara o trabalho dos homens com o trabalho das abelhas, com algo presente na natureza. As abelhas construindo sua colmeia, é como os homens construindo os muros de cartago. As abelhas estão relacionadas com a produção do mel (=doce), que remete à ideia de poesia. Ou seja, os poetas, assim como os trabalhadores de cartago, também podem ser visto como abelhas, porque mesmo que não construam muros, constroem versos.
Eneias se reconhece nas pinturas da muralha de Cartago. Ela retrata a guerra, e a queda de Troia. Ou seja: na muralha, está retratada a queda de outra muralha (a de Troia). É importante entender, que a muralha é a característica mais importante da cidade: quando o muro cai, também cai a cidade. Quando Dido se apaixona por Eneias, ela cessa a construção das muralhas. E quando ela morre, a cidade fica descordenada, e cai. Ou seja, o amor de Dido por Eneias, já era um indício de que a cidade iria cair. E Cartago precisava cair para que Roma fosse construída (isso porque Eneias precisava partir para cumprir sua missão de fundar Roma, e ele ter partido foi o motivo de Dido se matar, que foi a causa de Cartago ter desmoronado de vez). Troia também cai por causa do amor: o amor de Páris por Helena.
pág 27, versos 740-743: o aedo Iopas canta os astros. É uma referência à poesia didática (que antes não tinha tanta importância). Então por que agora ela ganha importância? Porque no helenismo eles gostam de provar que conhecem o máximo de coisas possíveis, numa versão quase desconhecida, e gostam de provar sua capacidade de fazer poesia. Então é como se dissessem "É muito fácil fazer poesia falando de elementos que naturalmente já são poéticos, como o amor. Quero ver fazer poesia sobre os astros, sobre agricultura...poeta mesmo é o que transforma matérias não poéticas em poesia".
pág 69, ultimo parágrafo: o fim do parágrafo, as últimas palavras são "ao repouso recolheu-se". Veja o seguinte: o dia acaba, assim que acaba o canto 3. E o canto 4 começa com o raiar do dia. Ou seja, é como se o poeta tivesse o controle editorial, porque aqui sim tem a organização em forma de livro. Tudo é organizado bonitinho.
pág20, versos 12-15: ele fala do trabalho das abelhas. Isso aqui é uma símile: ele compara o trabalho dos homens com o trabalho das abelhas, com algo presente na natureza. As abelhas construindo sua colmeia, é como os homens construindo os muros de cartago. As abelhas estão relacionadas com a produção do mel (=doce), que remete à ideia de poesia. Ou seja, os poetas, assim como os trabalhadores de cartago, também podem ser visto como abelhas, porque mesmo que não construam muros, constroem versos.
Eneias se reconhece nas pinturas da muralha de Cartago. Ela retrata a guerra, e a queda de Troia. Ou seja: na muralha, está retratada a queda de outra muralha (a de Troia). É importante entender, que a muralha é a característica mais importante da cidade: quando o muro cai, também cai a cidade. Quando Dido se apaixona por Eneias, ela cessa a construção das muralhas. E quando ela morre, a cidade fica descordenada, e cai. Ou seja, o amor de Dido por Eneias, já era um indício de que a cidade iria cair. E Cartago precisava cair para que Roma fosse construída (isso porque Eneias precisava partir para cumprir sua missão de fundar Roma, e ele ter partido foi o motivo de Dido se matar, que foi a causa de Cartago ter desmoronado de vez). Troia também cai por causa do amor: o amor de Páris por Helena.
pág 27, versos 740-743: o aedo Iopas canta os astros. É uma referência à poesia didática (que antes não tinha tanta importância). Então por que agora ela ganha importância? Porque no helenismo eles gostam de provar que conhecem o máximo de coisas possíveis, numa versão quase desconhecida, e gostam de provar sua capacidade de fazer poesia. Então é como se dissessem "É muito fácil fazer poesia falando de elementos que naturalmente já são poéticos, como o amor. Quero ver fazer poesia sobre os astros, sobre agricultura...poeta mesmo é o que transforma matérias não poéticas em poesia".
pág 69, ultimo parágrafo: o fim do parágrafo, as últimas palavras são "ao repouso recolheu-se". Veja o seguinte: o dia acaba, assim que acaba o canto 3. E o canto 4 começa com o raiar do dia. Ou seja, é como se o poeta tivesse o controle editorial, porque aqui sim tem a organização em forma de livro. Tudo é organizado bonitinho.
Eneida e o helenismo
Bom... vou falar um pouco da Eneida. Quem escreveu foi Virgílio e nessa época já tinha a ideia de livro, e tudo mais. Virgílio faz parte do período helenístico, então vamos falar características importantes:
- no helenismo, cultua-se uma poesia leve, breve, não tão extensa quanto a Homérica. As Argonauticas de Apolonio de Rodes, por exemplo, tem 4 cantos.
- o poeta tem controle editorial, porque como eu disse acima, já tem uma organização em livros.
- a lírica ganha um espaço maior nesse período, até porque tem a busca por uma poesia menos densa.
- os poetas, muitas vezes, usam versões desconhecidas de certos mitos, pra mostrar erudição (poetas doutos).
A poesia lírica pode falar dos:
- deuses (hino)
- filhos dos deuses (encômio)
- pugilato: boxe (epinício)
-cuidados (erótica): Odisseu por exemplo, tem relações sexuais com Calipso, Circe, mas a dimensão e a importância dentro do poema são bem menores se comparadas com a Eneida
-vinhos (escólio).
A poesia iâmbica (aquela agressiva), a elegíaca (que fala de lamentos), e a lírica erótica, possuem um ponto comum: o amor. Uma, apresenta o ódio ao amor, a outra, apresenta lamentação por causa do amor e última, conta os amores, o encantamento. O amor de Dido e Eneias, começa erótico, daí, quando ele parte, ela lamenta, depois fica furiosa, e depois, se suicida (trágico).
- no helenismo, cultua-se uma poesia leve, breve, não tão extensa quanto a Homérica. As Argonauticas de Apolonio de Rodes, por exemplo, tem 4 cantos.
- o poeta tem controle editorial, porque como eu disse acima, já tem uma organização em livros.
- a lírica ganha um espaço maior nesse período, até porque tem a busca por uma poesia menos densa.
- os poetas, muitas vezes, usam versões desconhecidas de certos mitos, pra mostrar erudição (poetas doutos).
A poesia lírica pode falar dos:
- deuses (hino)
- filhos dos deuses (encômio)
- pugilato: boxe (epinício)
-cuidados (erótica): Odisseu por exemplo, tem relações sexuais com Calipso, Circe, mas a dimensão e a importância dentro do poema são bem menores se comparadas com a Eneida
-vinhos (escólio).
A poesia iâmbica (aquela agressiva), a elegíaca (que fala de lamentos), e a lírica erótica, possuem um ponto comum: o amor. Uma, apresenta o ódio ao amor, a outra, apresenta lamentação por causa do amor e última, conta os amores, o encantamento. O amor de Dido e Eneias, começa erótico, daí, quando ele parte, ela lamenta, depois fica furiosa, e depois, se suicida (trágico).
Odisseia canto 11 resumido
Canto 11 da Odisseia: resumo
é uma Nekyia: evocação dos mortos. Odisseu vai pro invoca os mortos para falar com Tirésias (vidente, do ciclo tebano) para saber pelo que ainda passará. Lá ele encontra Elpenor, companheiro que caiu do terraço da casa de Circe, porque estava bêbado. Ele pede para que coloquem fogo ao seu corpo, com suas armas. Pede para que não abandonem seu corpo. Tirésias anuncia a ruína da nau e dos companheiros. Diz que morrerá de maneira suave, na velhice. Conversa com a mãe, que conta que sua esposa o espera, que ninguém se apossou do comando real ainda. Diz que o pai sente a ausência do filho. Depois Odisseu encontra várias mulheres, esposas de heróis. É uma poesia catalogal. As mulheres mais descritas, são tebanas. Mais adiante, conta-se o mito da fundação de tebas. Os fundadores foram Anfião (carregava as pedras, Aquiles) e Zeto (construiu a muralha tocando música, Odisseu). Depois fala com Agamemnone que diz que foi morto pela mulher e Egisto (exemplo do retorno mau sucedido). Diz para Odisseu tomar cuidado, para nunca se mostrar benévolo com a esposa, mas admite que penélope é diferente.
Odisseu se aproxima de Ajaz. Que estava ressentido e não quis conversar, lhe deu as costas. Quando Aquiles morreu, Ajaz e Odisseu disputaram suas armas. Palas Atena e alguns prisioneiros de guerra troianos eram os juízes. A disputa se fez por meio de um discurso. Palas sempre protege Odisseu, e ele ganhou. Ajaz se mata num ato de fúria. Eneias também tenta falar com dido, e ela não lhe dá importância.
é uma Nekyia: evocação dos mortos. Odisseu vai pro invoca os mortos para falar com Tirésias (vidente, do ciclo tebano) para saber pelo que ainda passará. Lá ele encontra Elpenor, companheiro que caiu do terraço da casa de Circe, porque estava bêbado. Ele pede para que coloquem fogo ao seu corpo, com suas armas. Pede para que não abandonem seu corpo. Tirésias anuncia a ruína da nau e dos companheiros. Diz que morrerá de maneira suave, na velhice. Conversa com a mãe, que conta que sua esposa o espera, que ninguém se apossou do comando real ainda. Diz que o pai sente a ausência do filho. Depois Odisseu encontra várias mulheres, esposas de heróis. É uma poesia catalogal. As mulheres mais descritas, são tebanas. Mais adiante, conta-se o mito da fundação de tebas. Os fundadores foram Anfião (carregava as pedras, Aquiles) e Zeto (construiu a muralha tocando música, Odisseu). Depois fala com Agamemnone que diz que foi morto pela mulher e Egisto (exemplo do retorno mau sucedido). Diz para Odisseu tomar cuidado, para nunca se mostrar benévolo com a esposa, mas admite que penélope é diferente.
Odisseu se aproxima de Ajaz. Que estava ressentido e não quis conversar, lhe deu as costas. Quando Aquiles morreu, Ajaz e Odisseu disputaram suas armas. Palas Atena e alguns prisioneiros de guerra troianos eram os juízes. A disputa se fez por meio de um discurso. Palas sempre protege Odisseu, e ele ganhou. Ajaz se mata num ato de fúria. Eneias também tenta falar com dido, e ela não lhe dá importância.
*O
anquises da Eneida (pai de Eneias) é uma mistura de Tirésias (revelação de
fundar roma) e Anticleia (parente).
*Tirésias é um adivinho do ciclo tebano, e as mulheres mais descritas também são tebanas, o que mostra que deve ser interpolação.
*Tirésias é um adivinho do ciclo tebano, e as mulheres mais descritas também são tebanas, o que mostra que deve ser interpolação.
Odisseia canto 9 resumido
Canto 9 da Odisseia: resumo
Odisseu diz que é de Ítaca, filho de Laertes. Diz que foi detido por Calipso, que Circe também tentou mantê-lo em sua casa. Diz que foi levado de Ílio para a terra dos Cíconos, e depois até a terra dos Lotófagos (mais um obstáculo para Odisseu, já que é relacionado à perda de memória). Conta que depois foi para a terra dos ciclopes.
Diz que ele tem uma força incrível, que levanta um enorme rocha e usa de porta para a gruta. Conta que o monstro matou dois de seus sócios, cortou-lhes o membros e comeu a carne. Então, Odisseu e os outros sócios pegam um pedaço de madeira de uma árvore, e começam a polir. Eles oferecem vinho e o ciclope se embebeda (o ciclope é baixo, come de forma incivilizada. Não respeita as leis, principalmente a da hospitalidade). Odisseu então é questionado sobre seu nome, e responde ser Ninguém, também responde que sua nau fora destruída no mar, e que ele e os sócios conseguiram se salvar. Quando está dormindo, atingido pelo sono, eles ferem seu olho. Quando chama os outros Ciclopes, diz que Ninguém quer matar-lhe, sem uso de força. E eles vão embora. O ciclope retira a pedra enorme da porta, e lá fica sentado. Para fugir, Odisseu e os companheiros ficam atados ao peito das ovelhas que Polifemo pastoreava. Ao fugirem, Odisseu diz seu nome real. E polifemo diz que isso foi previsto uma vez. (polifemo só acredita depois que acontece. Odisseu se previne, é astuto)
Odisseu diz que é de Ítaca, filho de Laertes. Diz que foi detido por Calipso, que Circe também tentou mantê-lo em sua casa. Diz que foi levado de Ílio para a terra dos Cíconos, e depois até a terra dos Lotófagos (mais um obstáculo para Odisseu, já que é relacionado à perda de memória). Conta que depois foi para a terra dos ciclopes.
Diz que ele tem uma força incrível, que levanta um enorme rocha e usa de porta para a gruta. Conta que o monstro matou dois de seus sócios, cortou-lhes o membros e comeu a carne. Então, Odisseu e os outros sócios pegam um pedaço de madeira de uma árvore, e começam a polir. Eles oferecem vinho e o ciclope se embebeda (o ciclope é baixo, come de forma incivilizada. Não respeita as leis, principalmente a da hospitalidade). Odisseu então é questionado sobre seu nome, e responde ser Ninguém, também responde que sua nau fora destruída no mar, e que ele e os sócios conseguiram se salvar. Quando está dormindo, atingido pelo sono, eles ferem seu olho. Quando chama os outros Ciclopes, diz que Ninguém quer matar-lhe, sem uso de força. E eles vão embora. O ciclope retira a pedra enorme da porta, e lá fica sentado. Para fugir, Odisseu e os companheiros ficam atados ao peito das ovelhas que Polifemo pastoreava. Ao fugirem, Odisseu diz seu nome real. E polifemo diz que isso foi previsto uma vez. (polifemo só acredita depois que acontece. Odisseu se previne, é astuto)
Odisseia canto 8 resumido
Canto 8 da Odisseia: resumo
Odisseu escapa da tempestade, adormece na floresta e encontra Nausícaa (filha do rei Alcínoo) e suas escravas. Elas o levam para a terra dos feácios, reino de Alcínoo. Lá, Odisseu ouve o aedo Demódoco, cego (canta aquilo que não viu nem poderia ter visto, até porque é cego, é inspirado pela Musa).
1º canto: o aedo canta a contenda de odisseu e aquiles. É um canto elevado.
os feácios dão início aos jogos. Odisseu primeiramente não deseja participar, porque em seu peito existem muitas tristezas provocadas pelos problemas e desvios que tem passado para chegar à patria. Mas euríalo o desafia, dizendo que não parece homem que entenda de jogos. Que mais se assemelha a um que apenas vaga em busca de lucro. Odisseu retruca dizendo que alguns são parecidos com os deuses na aparência, mas que são desprovidos da eloquência, da destreza do discurso, do intelecto. Odisseu então joga e supera a marca dos outros jogadores.
2º canto: o aedo conta os amores de ares e afrodite. Ela trai o marido Hefesto, que é um ferreiro, enquanto ele trabalha. Ao descobrir, ele faz uma armadilha, e prende Ares em correntes. Os deuses observam a cena, e acham cômico, e Hefesto se lamenta, dizendo que foi desonrado por ser coxo.
*Na Ilíada , Tersites também é coxo e faz cena cômica
3º canto: o aedo canta sobre o cavalo de troia. Narra que pensaram em destruir o cavalo, e que depois decidiram colocá-lo para dentro da cidade. Fala sobre os saques, etc. Odisseu se derreteu em lágrimas, o que levou Alcínoo a questionar sua origem. Odisseu chora porque se reconhece. Lembram que citei sobre o reconhecimento? É quando o personagem reconhece a si próprio, ou outro lhe reconhece.
*O primeiro e o terceiro cantos se dão no interior do palácio. E são sobre feitos heróicos, são cantos elevados. O segundo canto por sua vez, se dá fora do palácio, é um canto cômico, baixo. O que leva a crer que é uma interpolação.
O que é uma interpolação? Interpolação é quando uma parte não original é inserida no texto original. É como se você escrevesse alguma coisa, colocasse no meio da Odisseia e dissesse "isso aqui é Homero". Isso acontece porque aconteceu o seguinte:
Homero é do período arcaico...lá pelo séc VIII aC. Era, como eu já disse, um período de cultura oral, em que não havia a organização em livros, etc. Quando surge o Alexandre, o grande, faz-se a biblioteca de Alexandria, e aí... pronto... pra classificar precisa de gêneros né. Daí, surge a teoria dos gêneros...em que havia uma certa regrinha explicando o que um texto, poesia, etc precisava pra ser lírico, épico, dramático. E aí, existiam poetas bibliotecários filólogos que organizavam esses manuscritos. Mas eles não organizavam simplesmente.... eles editavam também. Então, eles liam e pensavam "isso não é Homero", e cortavam. Aí, eles também escreviam, e colocavam no meio da poesia. Então, às vezes existem algumas características em certos cantos, que nos fazem crer que certas passagens, ou mesmo cantos inteiros, são interpolações.
Odisseu escapa da tempestade, adormece na floresta e encontra Nausícaa (filha do rei Alcínoo) e suas escravas. Elas o levam para a terra dos feácios, reino de Alcínoo. Lá, Odisseu ouve o aedo Demódoco, cego (canta aquilo que não viu nem poderia ter visto, até porque é cego, é inspirado pela Musa).
1º canto: o aedo canta a contenda de odisseu e aquiles. É um canto elevado.
os feácios dão início aos jogos. Odisseu primeiramente não deseja participar, porque em seu peito existem muitas tristezas provocadas pelos problemas e desvios que tem passado para chegar à patria. Mas euríalo o desafia, dizendo que não parece homem que entenda de jogos. Que mais se assemelha a um que apenas vaga em busca de lucro. Odisseu retruca dizendo que alguns são parecidos com os deuses na aparência, mas que são desprovidos da eloquência, da destreza do discurso, do intelecto. Odisseu então joga e supera a marca dos outros jogadores.
2º canto: o aedo conta os amores de ares e afrodite. Ela trai o marido Hefesto, que é um ferreiro, enquanto ele trabalha. Ao descobrir, ele faz uma armadilha, e prende Ares em correntes. Os deuses observam a cena, e acham cômico, e Hefesto se lamenta, dizendo que foi desonrado por ser coxo.
*Na Ilíada , Tersites também é coxo e faz cena cômica
3º canto: o aedo canta sobre o cavalo de troia. Narra que pensaram em destruir o cavalo, e que depois decidiram colocá-lo para dentro da cidade. Fala sobre os saques, etc. Odisseu se derreteu em lágrimas, o que levou Alcínoo a questionar sua origem. Odisseu chora porque se reconhece. Lembram que citei sobre o reconhecimento? É quando o personagem reconhece a si próprio, ou outro lhe reconhece.
*O primeiro e o terceiro cantos se dão no interior do palácio. E são sobre feitos heróicos, são cantos elevados. O segundo canto por sua vez, se dá fora do palácio, é um canto cômico, baixo. O que leva a crer que é uma interpolação.
O que é uma interpolação? Interpolação é quando uma parte não original é inserida no texto original. É como se você escrevesse alguma coisa, colocasse no meio da Odisseia e dissesse "isso aqui é Homero". Isso acontece porque aconteceu o seguinte:
Homero é do período arcaico...lá pelo séc VIII aC. Era, como eu já disse, um período de cultura oral, em que não havia a organização em livros, etc. Quando surge o Alexandre, o grande, faz-se a biblioteca de Alexandria, e aí... pronto... pra classificar precisa de gêneros né. Daí, surge a teoria dos gêneros...em que havia uma certa regrinha explicando o que um texto, poesia, etc precisava pra ser lírico, épico, dramático. E aí, existiam poetas bibliotecários filólogos que organizavam esses manuscritos. Mas eles não organizavam simplesmente.... eles editavam também. Então, eles liam e pensavam "isso não é Homero", e cortavam. Aí, eles também escreviam, e colocavam no meio da poesia. Então, às vezes existem algumas características em certos cantos, que nos fazem crer que certas passagens, ou mesmo cantos inteiros, são interpolações.
Odisseia canto 5 resumido
Canto 5 da Odisseia: resumo
Os pretendentes descobrem a viagem de Telêmaco e planejam uma emboscada, pois temem a volta de Odisseu, e as suas próprias vidas. Zeus diz para Atena guiar Telêmaco e envia Hermes ao encontro de Calipso. Nesse momento, ele passa por um lugar arborizado, muito belo, com flores, água (locus amoenus), e fica admirado.
Aqui existe uma metapoética. O que é isso? Quando Hermes vai encontrar Calipso, ele para num local muito bonito e descansa. E quando ele vê esse local, o autor descreve a paisagem. A descrição é vista como "um repouso da narração", é como se o autor tivesse dando um tempo pro leitor respirar, e pra ele mesmo relaxar um pouco. Então, a gente repousa assim como o personagem repousa. Essa descrição é chamada ekphrasis, e ocorre no canto 18 da Ilíada também, na descrição do escudo de Aquiles. É um recurso para dar mais ferramentas para o entendimento.
No primeiro momento, Calipso se irrita, diz que os deuses são invejosos, que não permitem a união no leito de uma deusa com um mortal. Diz que assim como Zeus a separa de Odisseu, já o fez com Jasão e Deméter. Mas sabe que é impossível ir contra a vontade de Zeus, e diz que permite a volta de Odisseu, apesar de não ajudá-lo nos preparativos (mas concorda em dar conselhos para privá-lo dos perigos). Quando recebe a notícia, Odisseu fica receoso, e diz que só partirá se a deusa quiser e prometer não lhe fazer mal. Ela tenta convencê-lo a ficar, dizendo que muitos males o aguardam, e que é superior do que Penélope nas formas... mas ele não se convence.
Odisseu parte. Posido causa uma forte tempestade (e o nome dos ventos que ocorrem durante a tempestade são os mesmo que os d'Os Lusíadas, porque há a ideia da mimésis: "copiar" autores anteriores, e tentar fazer uma poesia mais elevada. O objetivo é ser o melhor dos autores.) . Odisseu faz o discurso da bela morte: preferia morrer na guerra para obter a glória em vez de morrer longe da vista das pessoas, isolado. Leucoteia o avista, e lhe dá um véu para transpassar por baixo do peito, para lhe proteger dos males. Odisseu tem medo que seja mais uma emboscada dos deuses, e pensa consigo que não seguirá o conselho enquanto as tábuas de sua embarcação o suportarem. O vento espalha as tábuas e odisseu usa o véu.
Os pretendentes descobrem a viagem de Telêmaco e planejam uma emboscada, pois temem a volta de Odisseu, e as suas próprias vidas. Zeus diz para Atena guiar Telêmaco e envia Hermes ao encontro de Calipso. Nesse momento, ele passa por um lugar arborizado, muito belo, com flores, água (locus amoenus), e fica admirado.
Aqui existe uma metapoética. O que é isso? Quando Hermes vai encontrar Calipso, ele para num local muito bonito e descansa. E quando ele vê esse local, o autor descreve a paisagem. A descrição é vista como "um repouso da narração", é como se o autor tivesse dando um tempo pro leitor respirar, e pra ele mesmo relaxar um pouco. Então, a gente repousa assim como o personagem repousa. Essa descrição é chamada ekphrasis, e ocorre no canto 18 da Ilíada também, na descrição do escudo de Aquiles. É um recurso para dar mais ferramentas para o entendimento.
No primeiro momento, Calipso se irrita, diz que os deuses são invejosos, que não permitem a união no leito de uma deusa com um mortal. Diz que assim como Zeus a separa de Odisseu, já o fez com Jasão e Deméter. Mas sabe que é impossível ir contra a vontade de Zeus, e diz que permite a volta de Odisseu, apesar de não ajudá-lo nos preparativos (mas concorda em dar conselhos para privá-lo dos perigos). Quando recebe a notícia, Odisseu fica receoso, e diz que só partirá se a deusa quiser e prometer não lhe fazer mal. Ela tenta convencê-lo a ficar, dizendo que muitos males o aguardam, e que é superior do que Penélope nas formas... mas ele não se convence.
Odisseu parte. Posido causa uma forte tempestade (e o nome dos ventos que ocorrem durante a tempestade são os mesmo que os d'Os Lusíadas, porque há a ideia da mimésis: "copiar" autores anteriores, e tentar fazer uma poesia mais elevada. O objetivo é ser o melhor dos autores.) . Odisseu faz o discurso da bela morte: preferia morrer na guerra para obter a glória em vez de morrer longe da vista das pessoas, isolado. Leucoteia o avista, e lhe dá um véu para transpassar por baixo do peito, para lhe proteger dos males. Odisseu tem medo que seja mais uma emboscada dos deuses, e pensa consigo que não seguirá o conselho enquanto as tábuas de sua embarcação o suportarem. O vento espalha as tábuas e odisseu usa o véu.
Odisseia canto 1 resumido
Canto 1 da Odisseia: resumo
nesse canto, há a assembleia dos deuses, em que eles decidirão o futuro de Odisseu. Zeus diz que os homens muitas vezes culpam a eles pelas desgraças de suas vidas, mas relembra o episodio de Egisto e Agamémnone: Egisto era amante da esposa de Agamemnone, e juntos planejaram sua morte. Hermes avisou para Egisto abandonar o plano, pois a vingança viria de Orestes. Ele não deu ouvidos.
Atena, no entanto, diz que apesar de muitos homens merecem os sofrimentos decorrentes de suas ações, Odisseu não os merece, já que sempre cumpriu seus deveres com os deuses. Fica decidido que Odisseu voltará para a pátria, mesmo que Posido, que teve o filho ferido, seja contra.
Atena vai ao encontro de Telêmaco, na figura de Mentes, para lhe convencer a ir em busca de notícias do pai. Telêmaco mostra sua insatisfação com os pretendentes, diz que isso logo acabaria se seu pai voltasse, já que aguçaria o medo nos homens rudes. Diz que não tem esperanças da volta de seu pai. Mentes lhe avisa que soube que Odisseu se encontra vivo, e que pensa no regresso. Diz que deve conversar com Nestor (Pilo) e Menelau (esparta) em busca de novas do pai. Palas desaparece como pássaro.
Todos ouvem o aedo Fêmio, que canta um nóstos (canto de regresso), é uma poesia elevada, de feitos heróicos (retorno de Troia dos Aquivos). Penélope desce dos aposentos e pede para que Fêmio cante outros grandes feitos, e não esses que lhe afligem. Telêmaco diz que volte para o quarto, e afirma que o aedo de nada tem culpa, ele apenas relata os feitos. Quem tem culpa dos acontecimentos são os deuses.
nesse canto, há a assembleia dos deuses, em que eles decidirão o futuro de Odisseu. Zeus diz que os homens muitas vezes culpam a eles pelas desgraças de suas vidas, mas relembra o episodio de Egisto e Agamémnone: Egisto era amante da esposa de Agamemnone, e juntos planejaram sua morte. Hermes avisou para Egisto abandonar o plano, pois a vingança viria de Orestes. Ele não deu ouvidos.
Atena, no entanto, diz que apesar de muitos homens merecem os sofrimentos decorrentes de suas ações, Odisseu não os merece, já que sempre cumpriu seus deveres com os deuses. Fica decidido que Odisseu voltará para a pátria, mesmo que Posido, que teve o filho ferido, seja contra.
Atena vai ao encontro de Telêmaco, na figura de Mentes, para lhe convencer a ir em busca de notícias do pai. Telêmaco mostra sua insatisfação com os pretendentes, diz que isso logo acabaria se seu pai voltasse, já que aguçaria o medo nos homens rudes. Diz que não tem esperanças da volta de seu pai. Mentes lhe avisa que soube que Odisseu se encontra vivo, e que pensa no regresso. Diz que deve conversar com Nestor (Pilo) e Menelau (esparta) em busca de novas do pai. Palas desaparece como pássaro.
Todos ouvem o aedo Fêmio, que canta um nóstos (canto de regresso), é uma poesia elevada, de feitos heróicos (retorno de Troia dos Aquivos). Penélope desce dos aposentos e pede para que Fêmio cante outros grandes feitos, e não esses que lhe afligem. Telêmaco diz que volte para o quarto, e afirma que o aedo de nada tem culpa, ele apenas relata os feitos. Quem tem culpa dos acontecimentos são os deuses.
Proposições: Ilíada vs Odisseia
Na Ilíada, o nome de Aquiles é mencionado mais de uma vez, logo nos primeiros versos. Isso é adequado com relação ao personagem, já que ele é o mais corajoso dos aqueus. Aquiles é o herói da força, aquele que enfrenta os desafios de frente, sem camuflagem. Já na Odisseia, o nome de Odisseu aparece só no final da página. Como eu disse anteriormente, Odisseu é denominado como "o varão astucioso", essa forma de denominá-lo, é chamada perífrase. A perífrase é uma forma oblíqua de denominar os personagens (uma forma que não diz diretamente), assim como Odisseu não é direto, assim como Odisseu dá voltas nas pessoas, dá voltas em seus inimigos, assim como ele se camufla ao chegar em seu palácio com medo de morrer como aconteceu com Agamemnone, assim como ele dá voltas até chegar em sua pátria. Podemos ver então, que há uma adequação dos personagens com a forma com que são apresentados no texto. O próprio texto retrata as principais característica de seus protagonistas. A adequação, é um dos pontos que Aristóteles diz serem relevantes na hora da escrita.
Odisseia, o polytropos e mais detalhes
Vou falar sobre especificidades da Odisseia então, já que foi possível ter uma ideia do que é uma epopeia, suas principais características, etc. Lembro que minha análise será feita seguindo a leitura da Odisseia traduzida pelo Carlos Alberto Nunes, na edição de 2011. A Ilíada é sim anterior à Odisseia, mas eu gosto bem mais da Odisseia, e ela possui pontos bem mais relevantes de análise, etc. Mas depois daremos enfoque na Ilíada também, faremos alguns comentários e compararemos personagens.
A Odisseia, como eu disse anteriormente, trata do retorno do varão Odisseu. É importante saber que Odisseu é conhecido como um homem astucioso, é o herói do verbo, aquele que convence as pessoas com seus discursos. Em latim, Odisseu é caracterizado como POLYTROPOS. E essa palavra é muito interessante...dá margem pra uma boa análise:
Polytropos: muitas voltas.
1º interpretação: Odisseu é polytropos, porque é capaz de dar "a volta" nas pessoas, de se livrar de problemas, ou de conseguir o que quer pelo poder da palavra, do discurso.
2º interpretação: odisseu passa por muitas voltas antes de ir pra casa (como quando fica preso por Calipso, ou quando passa pela tempestade, quando vai para o palácio dos feácios, quando quase é morto pelo Polifemo, etc).
Então, esse polytropos, dá margem tanto pra caracterizar o próprio Odisseu, quanto pra caracterizar aquilo pelo que ele passa enquanto tenta regressar.
Homero invoca a Musa. Ela é importante porque é através dela que ficamos sabendo aquilo que o autor não viu nem poderia ter visto. Em uma postagem anterior, foi dito que o autor parece estar a par de tudo que aconteceu, como se realmente tivesse presenciado. Então, tudo bem, ele até pode ter visto, o Odisseu lá na terra dos feácios conversando com o rei Alcínoo e tudo mais, só que seria impossível ele saber o que se passava no Olimpo, e o que os deuses conversavam, por isso, a Musa é essencial).
Na página 35, aparece a palavra aedo. Um aedo, é um homem que canta a poesia (porque nessa época ainda não havia a ideia de de escrever a poesia, era tudo cantado pelos aedos). O aedo é quem imortalizava os feitos dos homens.
A Odisseia, é um Nostos (um canto de regresso) e a Ilíada é uma erga (canto de feitos, guerra).
Isso é o mais relevante, em quesito de análise, do canto 1.
- Canto 1:
A Odisseia, como eu disse anteriormente, trata do retorno do varão Odisseu. É importante saber que Odisseu é conhecido como um homem astucioso, é o herói do verbo, aquele que convence as pessoas com seus discursos. Em latim, Odisseu é caracterizado como POLYTROPOS. E essa palavra é muito interessante...dá margem pra uma boa análise:
Polytropos: muitas voltas.
1º interpretação: Odisseu é polytropos, porque é capaz de dar "a volta" nas pessoas, de se livrar de problemas, ou de conseguir o que quer pelo poder da palavra, do discurso.
2º interpretação: odisseu passa por muitas voltas antes de ir pra casa (como quando fica preso por Calipso, ou quando passa pela tempestade, quando vai para o palácio dos feácios, quando quase é morto pelo Polifemo, etc).
Então, esse polytropos, dá margem tanto pra caracterizar o próprio Odisseu, quanto pra caracterizar aquilo pelo que ele passa enquanto tenta regressar.
Homero invoca a Musa. Ela é importante porque é através dela que ficamos sabendo aquilo que o autor não viu nem poderia ter visto. Em uma postagem anterior, foi dito que o autor parece estar a par de tudo que aconteceu, como se realmente tivesse presenciado. Então, tudo bem, ele até pode ter visto, o Odisseu lá na terra dos feácios conversando com o rei Alcínoo e tudo mais, só que seria impossível ele saber o que se passava no Olimpo, e o que os deuses conversavam, por isso, a Musa é essencial).
Na página 35, aparece a palavra aedo. Um aedo, é um homem que canta a poesia (porque nessa época ainda não havia a ideia de de escrever a poesia, era tudo cantado pelos aedos). O aedo é quem imortalizava os feitos dos homens.
A Odisseia, é um Nostos (um canto de regresso) e a Ilíada é uma erga (canto de feitos, guerra).
Isso é o mais relevante, em quesito de análise, do canto 1.
Prosa vs poesia
Mas enfim... qual a diferença entre prosa e poesia?
Eu vou procurar responder isso baseada no texto do Mario Faustino: poesia - experiência. A poesia se trata, antes de tudo, de uma maneira de ser da literatura, ou seja, uma forma de exprimir percepções através de palavras, organizando estas em padrões lógicos, musicais e visuais.
A distinção mais comum entra as duas é a formal. A grande maioria responde "uma é em versos a outra em prosa (parágrafos, etc)". E não está errado. Mas vai além disso. A poesia, de certa forma, possui mais ritmo, tem linguagem mais concentrada, e o metro em poesia é mais fácil de identificar e mais preciso. A linguagem poética é criação, e a prosaica, comunicação.
Esse trecho é interessante: "Quem usa a linguagem poética fá-lo para conhecer o universo, nomeando-o, recriando-o, e para, em seguida, doar, expor, essa criação aos outros homens como um escultor oferece sua estátua e o músico sua música. Quem usa de linguagem prosaica conhece o universo através de comentários, da utilização de palavras já criadas e relativamente substituíveis".
Eu vou procurar responder isso baseada no texto do Mario Faustino: poesia - experiência. A poesia se trata, antes de tudo, de uma maneira de ser da literatura, ou seja, uma forma de exprimir percepções através de palavras, organizando estas em padrões lógicos, musicais e visuais.
A distinção mais comum entra as duas é a formal. A grande maioria responde "uma é em versos a outra em prosa (parágrafos, etc)". E não está errado. Mas vai além disso. A poesia, de certa forma, possui mais ritmo, tem linguagem mais concentrada, e o metro em poesia é mais fácil de identificar e mais preciso. A linguagem poética é criação, e a prosaica, comunicação.
Esse trecho é interessante: "Quem usa a linguagem poética fá-lo para conhecer o universo, nomeando-o, recriando-o, e para, em seguida, doar, expor, essa criação aos outros homens como um escultor oferece sua estátua e o músico sua música. Quem usa de linguagem prosaica conhece o universo através de comentários, da utilização de palavras já criadas e relativamente substituíveis".
Hume: padrão do gosto/ Mario Faustino- poesia experiência
As pessoas diferem sobre o mesmo assunto, porque possuem acepções diferentes,
tem sentimentos diferentes
despertados por um mesmo objeto. E mesmo quando um objeto está estruturado para
destinar prazer, não se pode afirmar que o prazer será sentido de forma igual
em todas as pessoas. A beleza não existe em coisa alguma, quem as observa é que
lhe dá essa propriedade em diferentes níveis. Mas existem situações, em que a opinião é comum a todos, por exemplo:
ao comparar o Everest com um montinho de areia, não está mais em questão a
opinião particular do indivíduo, se trata de um fato: o Everest é mais alto.
Alguns textos, devido à estruturação, estão destinadas a agradar e outras, não. Quando se verificar uma uniformidade completa nas opiniões dos homens, pode-se ter uma ideia de perfeita beleza. Existem certas qualidades dos objetos que estão destinadas a gerar determinados sentimentos, dependendo do grau em que aparecem não são captadas pelo sentido. Quando existe uma percepção alta para distinguir os ingredientes de composição, diz-se que existe uma delicadeza de gosto. Na expressão poética, a linguagem se clarifica, enriquece, se torna elástica e precisa.
Alguns possuem uma certa reputação, que gera nos outros uma ideia de superioridade, conhecimento, e muitas vezes sua opinião é levada em conta. Mas, quando o mau crítico não quer se submeter à classificação de outra pessoa, ao mostrar-lhe os princípios e recursos usados que não foram percebidos por seu sentido, ele reconhecerá, provavelmente, seu defeito. A composição, os recursos, são importantes para classificar os textos. A prova concreta, muitas vezes é muito mais convincente do que uma opinião, do que a fala, porque aquela apresenta os fatos, não exige compatibilidade dos interlocutores, nem nada emocional, são fatos. E para ter uma percepção melhor desses ingredientes , nada melhor do que a experiência. No começo, pode ser confuso e não legível, mas com o tempo perceberá as belezas e defeitos de cada parte, fará aprovação ou censura. Com a experiência, tem-se a capacidade de fazer comparações, conhecer níveis diversos de técnicas, e melhor avaliar o valor de um objeto. O fazer poético, não deve ser visto como algo árduo e trabalhoso, tedioso, mas também não deve ser considerado banal. O fazer poético é "doce e útil". O poeta não deve ser colocado num pedestal, mas não deve-se deixar de distingui-lo.
O crítico deve estar acima de qualquer tipo de preconceito porque ele se fecha para sua opinião particular, não se coloca naquele ponto de vista suposto pela obra. Uma obra deve ser classificada como mais ou menos perfeita de acordo com a sua eficiência em atingir seu objetivo. Só o bom senso ligado à delicadeza do sentimento, aperfeiçoado pela prática e comparação, livre do preconceito dá valiosa personalidade aos críticos. O poeta, ao analisar o social, universal, precisa disciplinar seus mecanismos de raciocínio de forma que se torne objetivo, imparcial, pois existe uma escala de valores e julgamentos que não devem ser realizados sem um preparo especial. As pessoas preferem aquilo que se assemelhe ao que vivem no momento,o que se assemelhe a inclinações pessoais (um garoto apaixonado estará mais inclinado para textos de romances). Alem disso, agrada mais ler sobre o que faz parte do nosso tempo, ou que não é muito distante dele, coisas muito distantes não proporcionam uma sensibilidade tao grande (aceitar costumes de épocas muito antigas). Essas particularidades devem ser aceitas, quem ficar chocado dará provas de falta de delicadeza e finura. O poeta melhora o leitor, mas também melhora a si mesmo nesse processo, ele se liberta, se afirma, concentra. É um processo ininterrupto de aperfeiçoamento.
A poesia age sobre o povo, como um comício, um discurso, Os lusíadas contribuíram para o fortalecimento da nacionalidade portuguesa, a Divina Comédia foi importante na luta do papado e as cidades livres da Itália. A poesia testemunha a cidade, registra suas diversas fases de expansão, evolução. A grande poesia contribui para criar um clima político, instigar mudança, formulação de ideias, etc. Assim, para criar uma poesia que corresponde à atualidade, um poeta precisa estar por dentro da sociologia, filosofia, economia, história, etc. É um todo que justifica a parte. Há quem prefira poesia passiva, embaladora, inofensiva. Porém, e poesia deve ser vista como uma forma de explicitar o que ocorre ao nosso redor, e como uma forma alternativa e diferente das pessoas entenderem a atualidade. Porque ao pesquisar sobre cada elemento usado pelo poeta, o motivo daquele uso, a relação com a atualidade e a história, a pessoa adquire conhecimento, e aos poucos forma um senso crítico sobre aquilo que acontece.
Alguns textos, devido à estruturação, estão destinadas a agradar e outras, não. Quando se verificar uma uniformidade completa nas opiniões dos homens, pode-se ter uma ideia de perfeita beleza. Existem certas qualidades dos objetos que estão destinadas a gerar determinados sentimentos, dependendo do grau em que aparecem não são captadas pelo sentido. Quando existe uma percepção alta para distinguir os ingredientes de composição, diz-se que existe uma delicadeza de gosto. Na expressão poética, a linguagem se clarifica, enriquece, se torna elástica e precisa.
Alguns possuem uma certa reputação, que gera nos outros uma ideia de superioridade, conhecimento, e muitas vezes sua opinião é levada em conta. Mas, quando o mau crítico não quer se submeter à classificação de outra pessoa, ao mostrar-lhe os princípios e recursos usados que não foram percebidos por seu sentido, ele reconhecerá, provavelmente, seu defeito. A composição, os recursos, são importantes para classificar os textos. A prova concreta, muitas vezes é muito mais convincente do que uma opinião, do que a fala, porque aquela apresenta os fatos, não exige compatibilidade dos interlocutores, nem nada emocional, são fatos. E para ter uma percepção melhor desses ingredientes , nada melhor do que a experiência. No começo, pode ser confuso e não legível, mas com o tempo perceberá as belezas e defeitos de cada parte, fará aprovação ou censura. Com a experiência, tem-se a capacidade de fazer comparações, conhecer níveis diversos de técnicas, e melhor avaliar o valor de um objeto. O fazer poético, não deve ser visto como algo árduo e trabalhoso, tedioso, mas também não deve ser considerado banal. O fazer poético é "doce e útil". O poeta não deve ser colocado num pedestal, mas não deve-se deixar de distingui-lo.
O crítico deve estar acima de qualquer tipo de preconceito porque ele se fecha para sua opinião particular, não se coloca naquele ponto de vista suposto pela obra. Uma obra deve ser classificada como mais ou menos perfeita de acordo com a sua eficiência em atingir seu objetivo. Só o bom senso ligado à delicadeza do sentimento, aperfeiçoado pela prática e comparação, livre do preconceito dá valiosa personalidade aos críticos. O poeta, ao analisar o social, universal, precisa disciplinar seus mecanismos de raciocínio de forma que se torne objetivo, imparcial, pois existe uma escala de valores e julgamentos que não devem ser realizados sem um preparo especial. As pessoas preferem aquilo que se assemelhe ao que vivem no momento,o que se assemelhe a inclinações pessoais (um garoto apaixonado estará mais inclinado para textos de romances). Alem disso, agrada mais ler sobre o que faz parte do nosso tempo, ou que não é muito distante dele, coisas muito distantes não proporcionam uma sensibilidade tao grande (aceitar costumes de épocas muito antigas). Essas particularidades devem ser aceitas, quem ficar chocado dará provas de falta de delicadeza e finura. O poeta melhora o leitor, mas também melhora a si mesmo nesse processo, ele se liberta, se afirma, concentra. É um processo ininterrupto de aperfeiçoamento.
A poesia age sobre o povo, como um comício, um discurso, Os lusíadas contribuíram para o fortalecimento da nacionalidade portuguesa, a Divina Comédia foi importante na luta do papado e as cidades livres da Itália. A poesia testemunha a cidade, registra suas diversas fases de expansão, evolução. A grande poesia contribui para criar um clima político, instigar mudança, formulação de ideias, etc. Assim, para criar uma poesia que corresponde à atualidade, um poeta precisa estar por dentro da sociologia, filosofia, economia, história, etc. É um todo que justifica a parte. Há quem prefira poesia passiva, embaladora, inofensiva. Porém, e poesia deve ser vista como uma forma de explicitar o que ocorre ao nosso redor, e como uma forma alternativa e diferente das pessoas entenderem a atualidade. Porque ao pesquisar sobre cada elemento usado pelo poeta, o motivo daquele uso, a relação com a atualidade e a história, a pessoa adquire conhecimento, e aos poucos forma um senso crítico sobre aquilo que acontece.
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